Em audiência na Justiça Federal em Curitiba, na quarta-feira (4), Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, explicou ao juiz Sergio Moro e aos procuradores da Lava Jato como se deu o “apoio cultural” da OAS, então comandada por Leo Pinheiro, à manutenção do acervo do ex-presidente Lula.
Okamotto começou seu depoimento denotando que a Lava Jato e a grande mídia fazem parecer que Lula mantém guardado um veículo de luxo do tipo “ferrari”, quando, na verdade, a grande parte dos bens acumulados pelo petista no período em que esteve na Presidência da República é formada por “cartas do povo brasileiro”, agradecendo pelos programas criados no governo do PT, criticando outras ações e sugerindo ideias. “Isso não fez parte de nenhuma acerto [de propina entre PT e OAS]”, assegurou Okamotto. “Foi uma contribuição de uma empresa em apoio a Lula”, disse a Moro.
O dirigente afirmou que, por conta da repercussão negativa forjada em torno do acerco – que precisou de 11 caminhões para deixar a sede do governo em Brasília – Lula, às vezes, “brinca que aquilo lá são tralhas, mas não são”. Para Okamotto, os bens da presidência têm importância histórica e um dos papéis do Instituto Lula, criminalizado pela Lava Jato, é justamente cuidar para que todo o material seja conservado.
Okamotto explicou, então, que procurou a Granero em meados de 2011, para orçar o armazenamento do acervo. Quando apurou que ficaria em torno de R$ 25 mil, percebeu que precisaria procurar uma empresa para arcar com a despesa como “apoio cultural”. Ele disse que encontrou com Pinheiro em uma das visitas do ex-OAS ao recém criado Instituto Lula, e perguntou se a empreiteira não teria um “depósito” para guardar o acervo provisóriamente, enquanto um novo espaço não era locado.
Segundo Okamotto, Leo Pinheiro disse que não tinha um depósito, mas foi informado de que, àquela época, a Granero já havia sido contata para cuidar de parte do acervo em Brasília. O empresário, então, disse que poderia verificar o custeio dessa despesa porque a OAS já tinha negócios com a Granero. Foi quando o contrato foi feito diretamente entre as duas empresas, sem que os recursos – pouco mais de R$ 1 milhão, no total – tenham passado pelo caixa do Instituto Lula.
O presidente do Instituto ainda explicou que, em 2015, com a Lava Jato em voga, a Granero rescindiu unilateralmente o contrato e, aí, o acervo foi direcionado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Era para isso ter ocorrido em 2012, porém, a sede do Sindicato não tinha espaço, àquela época, para abrigar o volume exorbitante de material acumulado por Lula. Com uma reforma concluída em 2015, a situação mudou.
“Acho importante e ficou claro que o apoio que o OAS deu foi eminentemente cultural e não teve troca de coisa nenhuma”, endossou Okamotto ao final de seu depoimento.
O Ministério Público Federal suspeita que a OAS pagou a manutenção do acervo presidencial de Lula como contrapartida a contratos que a construtora adquiriu junto à Petrobras. O principal documento utilizado para levantar suspeitas sobre essa parceria da OAS com o Instituto Lula é o contrato da Granero, que esconda a finalidade do serviço relacionada à armazenamento para o petista, e afirma que se tratava de material de escritório da OAS.
Sobre o contrato, um dos principais pontos da denúncia, Moro não fez nenhuma pergunta. Foi ao MPF que Okamotto disse que não saberia dar detalhes sobre o documento, pois foi fruto de compromisso da OAS com a Granero.
Okamotto também contrariou informações prestadas por Leo Pinheiro a Moro. O ex-OAS disse que combinou com Okamotto e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que o triplex no Guarujá seria reformado e entregue a Lula com recursos que a construtora deixaria de pagar ao partido como contrapartida aos contratos da Petrobras. Okamotto disse que nunca conversou com Pinheiro sobre qualquer assunto relacionado ao apartamento, apenas sobre o acervo presidencial e as palestras que a LILS fez a pedido da empresa.
Em seu depoimento, Leo Pinheiro também afastou qualquer possibilidade de esquema corrupto em torno do acervo presidencial. Ele disse que, de fato, se tratou de apoio cultural, custeado com recursos lícitos da OAS, que estava interessada em ter sua imagem vinculada à do Instituto Lula, dado o prestígio internacional do ex-presidente.
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