QUE SUFOCO!
Está difícil respirar. Muitas pessoas, desinformadas, formam sua opinião baseadas em dados exaustivamente disseminados pela mídia. Assim como a delação seletiva, julgamento seletivo e prisões seletivas, a informação seletiva – e muitas vezes distorcida – criou, ao longo dos últimos anos, um perfil de cidadão/eleitor com o qual fica difícil manter um diálogo construtivo, sereno, produtivo.
Que canseira. Que raiva. Que preguiça. Que desânimo. Que falta de ar! O cenário é claustrofóbico, triste, desconcertante, frustrante, mas também compreensível. Afinal, tais pessoas “desinformadas” assistem aos noticiários da TV, leem jornais, revistas, passam por este ou aquele site e percebem a realidade de acordo com os conteúdos dos veículos aos quais estão acostumadas a ter acesso.
Elas estão erradas? Não. Claro que não. Julgando-se “informadas”, elas querem participar, opinar, protestar, sugerir, exercitar cidadania. E, é óbvio, não querem ser chamadas de reaças, coxinhas e outras coisas bem piores que saem da boca de quem está aflito, no limite, vendo a vaca ir para o brejo por conta de armações espúrias da ala golpista da política brasileira que age (vamos resumir?) de acordo com o interesse do capital nacional e internacional. Com total conivência e estímulo da mídia. A mídia fala em uníssono, o cidadão mediano ouve em uníssono. O resultado é esse: muita gente falando muita bobagem. E uma minoria ouvindo o que não aguenta mais ouvir (ou ler): um festival de bobagens.
Tempos difíceis. As pessoas perderam a paciência. E nesse embate – entre os que têm melhor qualidade de informação X os que se alimentam apenas das informações golpistas – , desenvolve-se uma guerra onde não há derrotados ou vencedores. Todos perdem, todos se irritam, todos ficam sem paciência, Laços afetivos – familiares, de amizade, de coleguismo – se rompem, acirram-se as discussões, aumenta a polarização e o ódio. E as pessoas, sentindo-se cada vez menos compreendidas, passam facilmente da tristeza para a raiva e o ódio. Afinal, como muita gente sabe, a raiva, muitas vezes, não deixa de ser apenas uma forma de esconder as frustrações e a tristeza. Duas faces da mesma moeda.
As inúmeras iniciativas de Ongs, sites, análises de intelectuais acima de qualquer suspeita, blogs “sujos” e movimentos coletivos em geral – que se propõem a botar os pingos nos “is” – fazem a sua parte, mas estão longe, ainda, de conseguir adesão significativa da população – de ficar páreo a páreo com os golpistas.
Mauro Santayana (http://www.maurosantayana.
No Sonegômetro (http://www.
Você acha que gastamos muito com a Copa de 2014? OK. Você tem todo o direito de ficar bravo. Não se esqueça, porém, de que o valor da sonegação e de remessa para paraísos fiscais foi 12 vezes maior. Em 7 de agosto do ano passado a Sinprofaz – Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (http://www.sinprofaz.org.br/) apontava cálculo de 25,6 bilhões de gastos globais com a Copa, enquanto a sonegação chegou a 300 bilhões de reais – o equivalente a mais de 200 Maracanãs, 300 Itaquerões ou quase 50 vezes o que foi destinado a todos os aeroportos das cidades-sede.
Omissão de algumas informações + manipulação de outras contribuíram muito para que chegássemos onde chegamos. O governo passa por uma crise. Merece críticas, protestos, sugestões, pressão etc. Mas também é preciso haver um esforço, de todas as partes, para que as críticas sejam bem fundamentadas. Informação e conhecimento são essencias, indispensáveis. E também constituem-se na forma mais eficiente de ter poder e discutir com o poder já estabelecido.
Bora estudar minha gente. Bora deixar as panelas, os megafones, os chavões e mimimi de lado, por um tempo, pra tentar entender, de verdade, o que se passa nesse país. Que tal checar informações antes de postá-las no FB? Que tal ser menos refratário a novas informações, novos entendimentos? Que tal segurar a onda em relação aos próprios preconceitos, crenças arraigadas? Que tal pensar mais com a cabeça do que com o fígado? Que tal fugir das discussões inúteis?.
Não sei se consigo fazer tudo isso. Mas minha meta, podem ter certeza, é tentar. O Brasil é um grande país. E podemos fazer dele um lugar ainda muito melhor. Bora dar uma chance. A nós, aos outros e à nossa pátria – neste momento nem tão gentil, O que custa tentar?