Bilhete, Ivan Lins e Vitor Martins

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Por Ivan Lins, no facebook, reproduzido por Oswaldo Conti-Boosso, no Jornal da GGN – 

 

Amigos,




“Bilhete” foi composta em dezembro de 1979, em Teresópolis, em nossa ex-casa, no Ingá.

Eu e meu letrista e amigo Vitor já estávamos tentando fazer uma canção fazia dias e nada.

O clima começou a ficar desagradável. Começamos a nos estranhar.

Eis que nossa empregada, Dona Carmelita, reparando a situação, veio a nós e nos recomendou uma rezadeira que ela conhecia, chamada (pasmem) Madalena.

Fomos lá. Era numa pequena favela (hoje grande), no Caxangá. Subimos e chegamos à casinha dela. Dona Madalena era uma senhora branca, tipo nórdica, cabelos desgrenhados e simpática. Dona Carmelita explicou a ela que nós precisávamos de uns passes.

Aí ela foi para um canto e se concentrou e de repente estremeceu toda e recebeu uma entidade. Pegou um caderno e começou a escrever rabiscos nervosos, páginas e páginas, numa velocidade incrível, quando acabou, voltou para o canto, estremeceu de novo e voltou ao que era, e passou a traduzir a rabiscada toda: MAL OLHADO, INVEJA BRABA.

Virou-se para Vitor e disse pra ele acender uma vela numa pedra na beira de um rio e dedicar a uma entidade tal. Virou-se para mim também e disse para eu acender uma vela num descampado e dedicar a uma outra entidade. Já eram umas 20h da noite. Saímos de lá e Vitor logo achou o rio e acendeu a sua vela. Demorei a achar um descampado. Peguei minha vela, acendi e vi que não tinha pavio. Saímos atrás de outra vela, era domingo, tudo fechado. Acabei ganhando uma vela numa padaria.

Voltei ao descampado e acendi, dedicando a tal entidade. Voltamos para casa.
Dia seguinte, à tarde, minha sobrinha Heliane atende a um telefonema e vem me chamar dizendo que era um tal de Bíblia ou coisa parecida. Atendi e era o Quincy Jones, dizendo maravilhas de minhas músicas e nos convidando para Los Angeles, para saber o que ele estava preparando para nossas canções.

Minha carreira internacional começou ali.

Claro que no dia seguinte já estávamos inspiradíssimos e a primeira que saiu foi “Bilhete”.
Fiquei meio assustado com o tema, dizendo pra mim mesmo que nunca gostaria de cantar aquilo.

A inspiração não ficou só nisso. Fizemos mais umas 3 canções, entre elas “Atrevida”, que Simone e Isabella Taviani gravaram.

Canções femininas. Acho que a entidade do Vitor era uma mulher.

Gravei “Bilhete” no disco “Novo Tempo” de 1980. Ano seguinte Fafá de Belém grava e estoura a música nas paradas, com um arranjo belíssimo de César Camargo Mariano.
Dois anos depois ganhei meu “Bilhete”. O que eu temia aconteceu.

Fazer o quê?

Beijos,

Ivan

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