Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Certa vez, ao entrevistar Eduardo Galeano no Café Brasileiro, em Montevidéu, ouvi deste que, mesmo ateu, rezava todos os dias a Deus e ao diabo para que aquela casa etílica nunca fechasse, pois era ali que tomava as biritas dele e recebia as pessoas. O mesmo podemos fazer em relação ao Bip Bip, em Copacabana, que completa 50 anos de atividade em 2018.
Amigo de boteco é para toda a vida. Esta máxima ficou constatada na noite de sete de julho, quando o Bar Bip Bip, do grande Alfredinho, completou 50 anos e foi levado à Sala Baden Powell. Mais de 600 amigos do boteco foram à casa de espetáculo para a homenagem ao Alfredinho que, além de ver seu bar completar meio século, fará 75 anos em setembro.
Meio adoentado, Alfredinho não foi à homenagem, mas, certamente, a energia de todos aqueles amigos chegou até ele. Inusitado o homenageado não estar presente? Quem conhece o Alfredinho sabe que com ele o inusitado torna-se tradição. O Bip Bip, com seus 18 metros quadrados, é um bar sem balcão onde o cliente é que se serve. O não conhecedor desta prática já toma um esporro do dono, com sua voz rascante: “Quer me foder? Quer mec dar trabahlo? A geladeira está ali…”. Tudo isso com uma simpatia singular.
Bom, mas voltando à festa na Sala Baden Powel, houve ainda homenagem ao grande compositor Wilson Batista, falecido há 50 anos. Cristina Buarque é quem com muita graça levou o samba do autor de “Lá vem o Ipanema” ao palco, fazendo uma homenagem tripla: Bip Bip, Alfredinho e Wilson Batista. Um trio para ninguém botar defeito.
Além de Cristina, frequentadora assídua do Bip Bip há muito, artistas como Didu Nogueira, Thomaz Miranda e Ernesto Pires estiveram no palco ao lado de mais de trinta outros músicos e amigos do bar.
Com os tempos sombrios em que vivemos, Alfredinhho, de esquerda sem rodeios, sofreu recentemente repressão em seu Bip Bip, um espaço libertário da democracia. Portanto, mesmo festejando, os frequentadores do Bip Bip estão de coração apertado. E foi assim que a festa pode ter se tornado premonitória ao cobrar no palco e na plateia “Lula Livre”, pois horas depois, no domingo, foi expedido uma alvará de soltura para o maior líder político vivo.
Vida longa ao Alfredinho, o seu nosso Bip Bip e à nossa tão vilipendiada democracia!!!
Vejam fotos e videos da bela noite: