Bloco dos esquecidos: como sobreviverão os trabalhadores do carnaval de rua?

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Por Cristina Couri, compartilhado de Projeto Colabora – 

Com o iminente adiamento da festa por causa da pandemia de covid-19, é urgente um plano emergencial para apoiar a imensa cadeia produtiva envolvida na folia do Rio de Janeiro

O bloco A Rocha, um dos que fazem parte da liga de blocos Coreto (Foto Riotur/Hudson Pontes)

A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) decidiu adiar o carnaval 2021. As associações e ligas de blocos do Rio de Janeiro apontam para a mesma direção: sem uma campanha ampla de vacinação, não teremos a festa em fevereiro. Mesmo sem um posicionamento oficial da Empresa Municipal de Turismo (Riotur), tudo indica que o maior evento popular do Rio de Janeiro será adiado. Sem desprezar, portanto, a segurança de foliões e organizadores, como fica a sobrevivência da imensa cadeia produtiva que gira em torno da festa?




De janeiro a janeiro, além dos ensaios com bateria realizados por todos os blocos entrevistados, 88% deles fazem apresentações com recebimento de cachê; 48% ofereceram oficinas de percussão, e 72% produziram eventos próprios com cobrança de ingresso

Precisamos evitar polarizações e qualificar com dados e evidências essa discussão. É urgente avançarmos no debate das políticas de estado para o apoio emergencial a esse setor. Minha pesquisa sobre a produção econômica do carnaval de rua mostra que esses grupos geram emprego e renda para uma quantidade significativa de profissionais que compõem essa cadeia produtiva. Nessa investigação analiso as atividades de 25 dos 37 blocos que compõem o Coletivo de Blocos Organizados do Rio de Janeiro (Coreto) e as contas de nove grupos que, gentilmente, aceitaram abrir seus registros.

De janeiro a janeiro, além dos ensaios com bateria realizados por todos os blocos entrevistados, 88% deles fazem apresentações com recebimento de cachê; 48% ofereceram oficinas de percussão, e 72% produziram eventos próprios com cobrança de ingresso. Por meio dessas atividades, os blocos pagam aluguel a estúdios e espaços culturais, remuneram técnicos de som, roadies, músicos e produtores e movimentam toda a cadeia ligada à indústria do entretenimento.

O pessoal do bloco "Que pena, amor", criado em homenagem à banda Raça Negra. Foto Leo Nakamura
O pessoal do bloco “Que pena, amor”, criado em homenagem à banda Raça Negra (Foto Leo Nakamura)

Os nove blocos que apresentaram suas contas para a pesquisa geraram oportunidades para um total de 478 profissionais –  218 ao longo do ano, mais 260 profissionais nos desfiles, uma média de 53 funções remuneradas por bloco. Dos profissionais remunerados ao longo do ano, todos pertenciam a setores da economia criativa.

Os blocos, necessitam, portanto, de um olhar atento das políticas emergenciais de apoio à cultura, considerando que, mesmo que se cancele a festa, existe uma produção econômica ao longo do ano que foi impactada diretamente pela paralisação das atividades

Esses nove blocos auferiram juntos uma receita de aproximadamente R$ 550 mil, dos quais 17,8% vieram de cachês ou de lucro com festas próprias. Embora não seja possível generalizar os resultados para os mais de 500 blocos que hoje desfilam na cidade, já que os que foram analisados são de médio porte, os números não são desprezíveis. Grupos similares, (com mais de 5 mil foliões) representam hoje 20% dos que desfilam segundo dados da Riotur.

Os blocos, necessitam, portanto, de um olhar atento das políticas emergenciais de apoio à cultura, considerando que, mesmo que se cancele a festa, existe uma produção econômica ao longo do ano que foi impactada diretamente pela paralisação das atividades. Esperamos que os formuladores de políticas públicas passem a enxergar o carnaval dos blocos de rua para além do turismo, como um catalisador de oportunidades que pode amenizar, nem que seja em parte, o sofrimento dos que trabalham com cultura e que hoje se veem sem alternativas.

*Colaborou a jornalista Renata Rodrigues

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