Jornal GGN – Profissionais da chamada blogosfera progressista foram recebidos pela presidente Dilma Rousseff (PT) na tarde desta sexta-feira (26), no Palácio da Alvorada, para uma entrevista coletiva que foi transmitida ao vivo na internet. Em meio a perguntas sobre saúde, segurança, economia, infraestrutura e política, Dilma pôde esclarecer projetos encampados ou abandonados (caso do trem bala) durante seu mandato, além de corrigir falas que, segundo ela, foram distorcidas por veículos da grande mídia. Aproveitando o gancho, coube a Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, perguntar à presidente por que, ciente da situação corriqueira, ela preferiu apanhar calada da imprensa durante quase quatro anos – esboçando, somente agora, em ano eleitoral, alguma reação.
Para embasar a questão, Guimarães e outros blogueiros citaram, antes, a manipulação de informações pelos grandes grupos de comunicação, que vai desde a Petrobras até o recente discurso da presidente na ONU. Muitos jornais manchetaram que Dilma é a favor de “negociar com terroristas”. A petista não justificou a postura passiva que teve nos últimos anos, mas concordou que construir um contraponto em defesa do próprio governo é algo que precisa ser perseguido mais incisivamente num possível segundo mandato.
“O que nós vemos é que, no Brasil, tem uma forma de fazer oposição que tem que ser denunciada, que é a forma do quanto pior [for o desempenho do atual governo], melhor [para esta oposição]. Tem uma parte da imprensa que faz oposição, mas a oposição [dos partidos políticos] também faz. Essa história da imprensa fazer oposição não é monopólio do Brasil. Acontece em várias partes do mundo. O que é verdade é que a situação agora é mais difícil. Por isso, cheguei à conclusão de que, na minha campanha [à reeleição], a verdade vai vencer a mentira. Eu tenho tentado [fazer esse contraponto à oposição], e agradeço a quem me ajuda. É um debate que terá de ser feito no segundo mandato”, comentou Dilma.
Regulamentação da mídia
No início do encontro, Dilma voltou a defender a regulamentação econômica da mídia, afirmando que acredita que o Brasil, agora, está “maduro” para discutir essa pauta. Segundo ela, a regulamentação não criaria nenhum tipo de censura à produção de conteúdo ou liberdade de imprensa e expressão. Atenderia, sim, aos artigos da Constituição de 1988 que cobram a inexistência de monopólios e oligopólios na mídia.
“A regulação tem que ter uma base, e essa base é a econômica. A concentração de poder ecoômico dificilmente leva a relações democráticas. Leva, sim, a relações assimétricas de poder, de informação e prepotência em qualquer área”, disse Dilma.
A presidente ainda destacou o papel dos blogueiros na democratização da informação. “Os blogueiros representam como a liberdade de expressão pode ser estimulada por novos meios de comunicação. A internet possibilitou isso. Mas independentemente desse avanço, eu entendo que o Brasil tem que regulamentar a mídia”, endossou.
Segurança
Questionada sobre a necessidade de melhorar a segurança no país, Dilma reforçou que o governo estuda intensificar a integração entre as polícias, a exemplo do que aconteceu na Copa do Mundo. Ela também reafirmou que é contra os abusos provocados com base nos autos de resistência. Para ela, em geral, o que se vê no país é o uso desse mecanismo para justificar inúmeros assassinatos, principalmente entre jovens negros e da periferia.
Dilma disse que a União não tem o poder de desmilitarizar as policias, pois é uma proposta inconstitucional. Ela também classificou a atual política carcerária como “cega”. “Nós temos um quadro que mistura péssimas condições [para os presos], com direito a tortura, e a resistência de que ninguém [governo] quer isso em seu estado. Para se ter ideia, nós ainda temos dinheiro para construir presídios, mas ninguém quer”, disse.
A presidente ainda falou em ampliar a capacitação técnica dos encarcerados. Ela lembrou que no próximo ano, o Pronatec terá 12 milhões de vagas disponíveis, e que uma parcela disso poderia atender a determinados perfis de presidiários. A petista insistiu que o país precisa investir, para além da inclusão social, na qualificação profissional. Segundo ela, sem esse avanço, a situação próxima de pleno emprego não irá se sustentar.
Reforma Política
Sobre reforma política, Dilma disse que insistirá no plebiscito, porque só a força do povo criará o cenário ideal às mudanças. “O desafio do país é maior que o sistema político. Quando você tem um sapato menor do que o pé, você tem que trocar o sapato. E o país, nesse caso, é o pé.”
Saúde pública
Segundo Dilma, depois da questão do atendimento básico, parcialmente resolvida com o Mais Médicos, a prioridade do governo é atacar as especialidades. Para a presidente, isso só será possível discutindo o rearranjo da parceria entre o sistema público de saúde e o privado.
“Você só resolve o problema das especialidades se regular melhor a relação entre o mundo público e o privado. O privado vai ter que pagar pelo público e o público, pelo privado. A discussão será colocada na ordem do dia, porque não dá para acreditar que o governo federal, estados e municípios, vão fazer uma rede pública para especialidades. Nós não damos conta. Se não integrarmos os dois mundos, não vamos dar conta de atender todo o Brasil.”