Publicado no Portal Geledés –
Edição do Kinder Chocolate para Eurocopa motiva reclamação racista de seguidores do movimento anti-imigração. Embalagens trazem craques da seleção alemã de futebol quando crianças, no lugar do tradicional menino branco.
Do Observatorio Racial Futebol
Uma edição especial do Kinder Chocolate para a Eurocopa provocou reclamações racistas de seguidores do movimento anti-imigração Pegida. As embalagens trazem fotos dos jogadores da seleção alemã de futebol quando crianças, no lugar do menino branco que comumente aparece no plástico.
As reclamações começaram com uma postagem na conta no Facebook de uma ramificação do grupo do sul da Alemanha chamada Pegida BW-Bodensee, comentando uma foto de duas embalagens estampadas com os rostos dos jogadores Ilkay Gündogan, do Borussia Dortmund, e de Jérôme Boateng, do Bayern de Munique, sobre uma frase que diz: “Agora não há mais limites. Será que isso está mesmo à venda ou é uma piada?”
Outros cidadãos se manifestam em relação ao comentário, afirmando “não vou comprar mais” ou “isso deve ser uma falsificação”. Um internauta chega a perguntar sarcasticamente se as novas embalagens servem como “alerta contra terroristas.”
O medo de mudança
Mas como seguidores do Pegida fiquem irritados com fotos de jogadores de uma seleção que representa o que há de mais patriótico na Alemanha? Em lugar nenhum podem ser vistas mais bandeiras alemãs do que em partidas de futebol.
“Eu mal posso esperar pela Eurocopa. Quero, aqui, pedir a proibição do acesso aos estádios para membros do Pegida!”, escreveu um usuário do Twitter. Parece uma reivindicação justificada. Será que os membros do Pegida não comemoram quando a Alemanha faz um gol?
“É de conhecimento geral que pessoas muito conservadoras estão céticas quanto a mudanças”, explica o psicólogo social Rolf van Dick a indignação causada pelas novas embalagens do Kinder Chocolate. Segundo ele, os seguidores do Pegida não aceitam fotografias de jogadores negros ou descendentes de turcos por elas contrariarem a imagem clássica que têm da Alemanha.
Já o psicólogo social Andreas Zick não se surpreende com a ação do grupo Pegida. Mesmo durante a Copa do Mundo de 2006 houve comentários racistas contra o então jogador da seleção Patrick Owomoyela.
Na época, no entanto, a origem era o partido de extrema direita NPD, que publicou um panfleto estampado com o uniforme da seleção alemã e a legenda: “Branco não é apenas uma cor da camisa! Por uma verdadeira seleção NACIONAL”.
“Não são poucos os que apoiam a ideia de um futebol branco e racialmente puro. Há inúmeros comentários na internet que fazem piada de forma racista”, comenta Zick. Ele teme que essa tendência ainda aumente durante a próxima Eurocopa.
Reações
Naturalmente, a maioria dos alemães não pensa assim. Rapidamente, muitos usuários das mídias sociais na Alemanha responderam com repúdio à postagem. No Facebook, uma jovem escreveu: “Vocês sabiam que a Ferrero é italiana? Qual é o próximo passo de vocês? ‘Alemães, não comprem mais dos italianos?”
O presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Reinhard Grindel, também respondeu aos comentários racistas.
“A seleção de futebol alemã é um dos melhores exemplos de integração bem sucedida. Milhões de pessoas na Alemanha estão orgulhosas desta equipe, porque ela é como é”, afirmou na quarta-feira. “Para nós, o que importa é o desempenho e não a origem de um jogador ou a religião em que ele acredita. E não devemos dizer mais do que isso em relação a esses comentários de mau gosto.”
Na foto da capa embalagens de barras de chocolate com fotos de infância dos jogadores alemães Jerome Boateng, Ilkay Gundogan e Lukas Podolski nascido na Polônia