Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
A iniciativa tacanha das esposas de congressistas em solicitar ao novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o direito de receberem passagens aéreas para acompanharem seus maridos em atividades de trabalho, me lembra um fato ocorrido comigo no início desta década. Na época, participei da criação de uma cooperativa de esportistas, a Craques de Sempre, que congregava principalmente ex-jogadores de futebol em escolinhas para a garotada carente da periferia da Capital paulista.
Na comemoração da vitória de uma concorrência municipal, fui ao microfone e disse que trabalharíamos para que a iniciativa se ampliasse pelo interior do Estado. E, olhando para um ex-jogador do Corinthians sentado logo a minha frente, citei-o, mencionando que o mesmo morava em Ribeirao Preto e que seria ótimo para ele a criação de uma escolinha naquela cidade. Assim, o nosso amigo não precisaria se locomover toda a segunda-feira para a Capital, voltando na sexta-feira para os braços da família. Mas percebi pelo semblante do mesmo que tinha feito um gol contra. Justamente contra ele, um ídolo que fez muitos gols em sua carreira.
Desci do palco aplaudido por todos, menos pelo craque mencionado por mim. De pronto, fui chamado pelo mesmo até o corredor. E ele se apressou em me alertar: “Washington, gosto muito de você mas parece que você não gosta de mim”. Atônito, perguntei o motivo de afirmação tão peremptória. E o ex-jogador me respondeu na lata: “Você conhece a minha mulher? Ela é brigona pra caramba, não me deixa em paz num só momento. Que história é esta de me arrumar emprego perto da minha casa? Me deixe aqui, longe, só voltando para casa nos finais de semana. Meu amigo, só fazemos favor para quem pede”.
Com esta, saí derrotado, dando razão ao craque que de jeito algum aceitou aquela bola pelas costas que tentei enfiar. Mesmo com a simples intenção de ajudar.
Bom, fico pensando: será que esposas e maridos parlamentares querem mesmo ficar juntinhos em Brasília? Será que estas passagens não seriam desviadas para outros lugares aprazíveis, longe da “discurseira” das tribunas? De toda a forma, mesmo que estas amantíssimas esposas estejam imbuídas das melhores intenções, sou contra esta espécie de “bolsa passagem aérea”. O erário público não merece. O meu amigo, jogador do passado que tantas alegrias deu aos corinthianos, também deve ser contra este procedimento.