Só no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro responde a seis inquéritos, além de mais de 20 na justiça eleitoral. Se somadas as ações que correm nas justiças estaduais nos TRFs e no STJ, o capitão é alvo de centenas de processos.
Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
Foto: Anderson Riedel/PR
A democracia é devedora do ministro Alexandre de Moraes especialmente, da justiça eleitoral e da maioria dos ministros do STF pela postura determinada em defesa do estado democrático de direito.
Merece elogios também a nova filosofia e dinâmica republicanas adotadas pela Policia Federal sob a direção do delegado Andrei Rodrigues, na gestão do ministro da Justiça, Flávio Dino.
Isto posto, vale a pena rememorar alguns casos que ganharam as páginas policiais envolvendo pessoas ligadas funcional e politicamente ao ex-presidente Bolsonaro:
1) O ajudante de ordens de um presidente da República exerce uma função integralmente subordinada ao chefe. Não existe margem para ações por conta própria ou voos solos. Ele cumpre ordens do presidente e ponto final. Por isso, o cargo é de exercício exclusivo de militares, formados para cumprir determinações vindas de cima, sem questionamentos. Como admitir, então, que o tenente-coronel Mauro Cid, que está preso, falsifique certificados de vacina, se aproprie de joias dadas de presente ao Estado brasileiro e tente vendê-las no submundo sem ter o respaldo e o aval de Bolsonaro?
2) Em quaisquer governos, independentemente de orientação político-ideológica, o ministro da Justiça é um dos mais importantes auxiliares do mandatário. Anderson Torres, que esteve preso e hoje usa tornozeleira eletrônica, era ministro de Bolsonaro. E só pode ter sido a mando do então presidente que Anderson elaborou a minuta do golpe, encontrada em sua casa. Depois, fugiu de Brasília para abrir caminho para os golpistas de 8 de janeiro e coordenou a ação de sabotagem aos eleitores nordestinos de Lula, no dia do segundo turno. A evidência da responsabilidade de Bolsonaro nesses crimes contra a democracia reside, portanto, nas próprias ações de um operador graduado seu. Nem uma criança de dez anos acreditaria em versão diferente.
3) A Polícia Rodoviária Federal é uma instituição de Estado, mas foi capturada pelo governo anterior para servir ilegalmente aos seus interesses. Ao atentar contra a democracia, impedindo a livre manifestação do voto de uma parte do eleitorado, o tal do Silvinei Vasques (sujeito que parece carregar gravada na testa a insígnia “eu não valho porra nenhuma”), que está também está em cana, cumpria ordens de Bolsonaro, diretamente ou através do ministro da Justiça. Levar a sério qualquer outra explicação para esta trama delinquente chega a ser uma ofensa à Inteligência das pessoas.
Entendo e valorizo o rito legal e iluminista da necessidade de obtenção dos chamados elementos concretos de prova, tipo um telefonema, uma mensagem de zap, um e-mail, etc, para a decretação da prisão de Bolsonaro.
No entanto, sabemos que o líder do nazifascismo nativo está longe de primar por algum nível de inteligência estratégica.
Claro que deixou rastros pelo caminho. Será tão difícil assim para os investigadores da PF encontrar impressões digitais dele nessa babel de crimes, ou a demora deve-se a uma decisão política equivocada de não prendê-lo, para não acirrar os ânimos e a polarização na sociedade? Alexandre de Moraes, Dino e Andrei estão com a palavra.