Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
É duro constatar que aquele vizinho quietinho do prédio pensa igual a Bolsonaro, que, noves fora, verbaliza o que o idiota médio brasileiro rumina.
Talvez seja um caso em que se requer ultrapassar a fronteira da Política na tentativa de explicá-lo. Trata-se da resiliência dos índices de aprovação do genocida Jair Bolsonaro. É pequeno diante dos portentosos 87% que Luiz Inácio Lula da Silva detinha ao deixar o Poder, mas é impressionante que cerca de um terço dos brasileiros apoie as barbaridades que estamos sofrendo.
Bolsonaro gera uma unanimidade de repúdio fora do Brasil. É desprezado por governantes e ridicularizado pela mídia internacional, incrédula pelo ser selvagem que é Presidente da República no Brasil.
Mas aqui, que é afinal o que importa, a persistência de um terço de aval revela que não uma maioria, mas uma parte expressiva de nossos compatriotas opta pela barbárie.
É verdade que as pesquisas revelam uma troca de base social de apoio ao genocida (o que, aliás, entristece). Ele perdeu grande parte da classe média e da turma mais informada, mas compensou por um inegável avanço entre os pobres, principalmente no Nordeste.
Não é preciso saber ler os levantamentos de opinião para supor que grande parte desse acréscimo vem nas asas do auxílio emergencial de 600 reais mensais, obtido pela oposição parlamentar mas capitalizado politicamente por Bolsonaro.
Noves fora, com troca de base social e por qual motivo for, a verdade é que o genocida se mantém sólido.
É importante realçar que é quase impossível que um candidato com 33% dos votos não chegue ao segundo turno da disputa presidencial de 2022, que deve, se a situação de hoje for mantida, ainda ter um candidato no mínimo das forças de esquerda, um da centro-esquerda e outro da direita convencional.
Bolsonaro, se o quadro não se alterar, é candidato forte em 2022. O que causa um certo desânimo é ver isso quando o sociopata desfila a ignorância assassina diante do recrudescimento de mortes pela Covid.
A campanha contra a vacina, o pouco caso com as quase duzentas mil famílias que perderam entes queridos, a explosão iminente da já alarmante taxa de desemprego, a tentativa de torrar patrimônio público, o desprezo ao SUS protagonizado pelos milicos incompetentes na Saúde, a perseguição à Cultura…Nada parece importar.
É duro constatar que aquele vizinho quietinho do prédio pensa igual a Bolsonaro, que, noves fora, verbaliza o que o idiota médio brasileiro rumina.
Lamentações ao final de um ano trágico fora, não dá para trocar de povo. Em defesa dele, aliás, ressalve-se que o tsunami de barbaridades não conseguiu transformar o bolsonarismo em maioria da população. Um terço ainda é um terço, não é metade mais um.
É hora sim de parar de medir o Brasil pelas nossas bolhas de redes sociais e ter a consciência de que o que achamos ridículo é avaliado de maneira divergente por muitos outros.
O desafio para o já quase entrante 2021 que nos levará às eleições do ano seguinte deve ser maior e, por isso, exigirá muito empenho na rua (quando o vírus será derrotado apesar do genocida) e articulação política.
Haverá muita discussão no campo popular sobre como enfrentar o demônio em 2022. Mas já dá para vislumbrar que estratégia e tática poderão ser colocadas à mesa num clima menos estreito.
O que isso quer dizer? Não haverá sentido em lançar candidaturas presidenciais que não tenham chance de vitória.
Decididamente, 2022 e postulações para “marcar posição” não caberão na mesma frase.
A destruição do País e de seus pobres não pode esperar pelo futuro.
A disputa em 2022 é para anteontem.