Por Marcio Pochmann, compartilhado de RBA –
Sua aposta no sucesso e continuidade de seu mandato passa pelo aprofundamento da barbárie como método da desconstrução da democracia democrático
Bolsonaro eleito, preparou-se para não governar. Pelo menos nas regras estabelecidas desde a transição da ditadura para a democracia, ainda na segunda metade da década de 1980. Mobilizou as massas em nome da crítica ao sistema. Por isso a coerência perseguida no exercício da presidência do antissistema. Acredita que regras e instituições democráticas existentes levam o país ao comunismo. Há um ano declarou em reunião na capital dos Estados Unidos com representantes da extrema direita daquele mesmo país que no Brasil “Antes de construir é preciso desconstruir muita coisa”. Daí agir como um estimulador do caos.
Para tanto, estabeleceu inédito círculo de militares de alta patente como sua classe dirigente para não desistir do não governo, em permanecendo o ambiente democrático. Também se muniu de dois dos principais operadores-mor de enclaves estadunidense no interior do país.
Coerente com essa perspectiva política, Bolsonaro passou o seu primeiro ano de mandato preocupado em estimular o caos político ao limite. Acirrou disputas entre partidos e políticos, inclusive no interior de sua própria base de apoio. Promoveu contradições entre instituições e jogou diferentes poderes da República contra si. Nada criou.
No jogo dissuasivo do Poder Judiciário, escalou um ex-juiz especialista na desconstrução da política, políticos e partidos, sobretudo, progressistas. Tudo em sintonia fina com a decadência da grande pátria do american way of life.
Para o altar da economia ascendeu o beato da improdutividade ultraliberal. Apoiado pela turma do charlatanismo rentista e dos pescadores de águas profundas, somente andou o conjunto dos negócios espúrios e da privatização safada frente à paralisia geral.
Caos passa pela economia
Neste início do segundo ano de mandato, o foco de Bolsonaro para fazer avançar o seu projeto do caos generalizado compreende a economia, cujos efeitos negativos para a sociedade são incomensuráveis. A crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus serve de instrumento para promover a desconstrução, antes de qualquer possibilidade de construção do bem socioeconômico.
Polemiza com governadores e prefeitos. Confunde e trava decisões do Legislativo. Contradiz a ciência, cientistas e o bom sendo. Aterroriza imprensa comercial e difunde a discórdia pelas redes sociais. Um prefeito estimulador do caos.
Frio e calculista, sabe que não há oposição suficientemente organizada e convergente. Caso tivesse, serviria de amostra para a difusão de como o sistema reage a quem deseja modificá-lo para valer.
Também não desconhece que o progresso do caos não resultará mais democracia. Por conta disso, sua única aposta no sucesso e continuidade do seu mandato passa pelo aprofundamento da barbárie como método da desconstrução do regime democrático.
Acredita, assim, que teria as melhores condições para colocar em jogo o seu circulo de militares de alta patente. As forças armadas podem até não engolir o estilo agressivo do capitão, mas diante do caos estimulado pela desconstrução generalizada, fariam ordem unida, permitindo, então, o início da construção fascista na República do Brasil. Finalmente instalada, a se manterem apequenados, justamente aqueles que, até por dever de ofício, ocupam cargos e recebem do erário público, remuneração para defender a consolidação e continuidade democrática.