Por Adriana do Amaral, compartilhado do Site Construir Resistência –
As eleições de 2022, para presidente, vislumbra como a única saída para o caos que se instalou no Brasil. E não me refiro apenas ao caos político e econômico. Escrevo sobre o caos social.
O atual presidente do Brasil revelou o pior de nós. Os cerca de 30% entre os brasileiros que fazem questão de mostrar publicamente aquilo que sempre foram, mas esconderam nas últimas décadas seja no privado de seu círculo social ou mente.
O mais estarrecedor foi descobrir que todos – ou boa parte de nós – convivemos com um bolsonarista. Seja por interesse e convicção, seja pela ideologia que ele defende. A parentada se revelou.
Ao longo dos meses alguns voltaram atrás, afirmaram terem se arrependido pelo voto. Muitos mantêm a mesma perspectiva de sociedade excludente, onde uns podem tudo e os outros.
Existem outros? Para eles, meros prestadores de serviços diversos.
Ler a noticia de que um homem, pessoa com deficiência física em sua cadeira de rodas, recusou-se a ser atendido por uma estudante do último ano de Enfermagem por ela ser negra mostra um pouco da sordidez que o brasileiro tem assumido em suas relações pessoais. O caso aconteceu no mais diverso dos estados brasileiros, onde a população afrodescendente é maioria: a Bahia.
Thais Carvalho participava da triagem no processo de vacinação, no Centro de Referência de Assistência Social do município de Ilheus, na segunda-feira (17). Ao abaixar-se para abordar o “cidadão”, ela ouviu: você é negra. O homem, não identificado, é branco.
O episódio racista mostra que a intolerância avança.
Como a estudante não preencheu a ficha do paciente, ela não pôde identificá-lo e denunciá-lo. Lembro que o racismo é crime no Brasil (#Lei 7.716/89).
Pega de surpresa, ela alegou ter ficado sem reação e saiu de perto do homem. Thais simplesmente continuou o seu trabalho.
“Eu não fiz a ficha dele e, logo após a atitude racista dele, saí para aplicar as vacinas, estava com isopor e seringas na mão”, relatou. Naquele dia, 500 doses de vacinas contra a #Covid-19 foram aplicadas.
O prefeito de Ilheus, Mário Alexandre (PSD), em nota oficial, divulgou a sua solidariedade à estudante. “Atitudes como essa são inaceitáveis em um país cuja maioria da população é autodeclarada negra”. Ressaltou: não vamos parar de lutar por uma sociedade justa e igualitária, combatendo qualquer tipo de violência e crimes de ódio e discriminação.
Brasileiros negros, afrodescendentes, pobres, em situação de vulnerabilidade e até empoderados, artista e políticos são agredidos cotidianamente Brasil afora. O preconceito, que gera a discriminação, parece ter voltado com força em solo brasileiro como mostram o descaso com crianças negras desaparecidas, os crimes nas comunidades, nos supermercados e em todos os lugares públicos ou privados.
“Eu já tinha passado por outras situações de racismo na vida, com olhares preconceituosos, mas nada parecido com isso”, disse a estudante. Maquiladora e influenciadora digital, Thais, com o dor que sentiu, sem dúvida, ajuda a alertar sobre o ódio que se propaga país afora, tal erva-daninha difícil de combater.
Construir Resistência tem o compromisso de informar, denunciando todas as formas de exclusão, discriminação e crimes contra a pessoa humana. Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.