Nesta quinta (29), a Globo transmitiu o último debate presidencial. Os Jornalistas Livres reuniram as principais mentiras de Bolsonaro
Por Emanuela Godoy, compartilhado de Jornalistas Livres
Bolsonaro mente. Nesta quinta (30), a Globo transmitiu o último debate presidencial antes das eleições que ocorrerão neste domingo 2 de outubro. O debate contou com a presença de todos os partidos que possuem representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares, como assegura a Lei das Eleições de 1997. Ao contrário do debate do SBT, Lula esteve presente. Já Bolsonaro que, em 2018, fugiu das emissoras, compareceu em todos os três debates presidenciais. Quatro anos atrás, entretanto, a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad era explícita e, talvez por causa disso, não se preocupasse em dar as caras, arriscando-se diante de outros candidatos. Agora, com Lula disparado na primeira posição das pesquisas, Bolsonaro não apenas comparece aos debates, como fala de tudo para ganhar apoio. Enquanto Lula lidera entre os beneficiários do Auxílio Brasil, o presidente insiste em declarações falsas como “Nosso governo fez de tudo para ajudar os mais pobres”.
Bolsonaro mente:
Em um debate, todos os candidatos cometem erros, deslizam com números ou fazem confusões com assuntos que não dominam plenamente, isso faz parte. Lula, por exemplo, se confundiu ao dizer que foi absolvido pela ONU, quando, na verdade, as Nações Unidas não têm esse poder. Entretanto, a ONU havia dado um parecer em que admitia a parcialidade do seu julgamento e que o ex-presidente havia tido os direitos violados. Já Bolsonaro, com os dias contados, não faz erros inocentes. Dizer repetidamente que seu governo ajudou os mais necessitados ou mentir sobre a gestão da pandemia, tudo isso tem um propósito: enganar o telespectador e construir uma memória falsa sobre seu governo. Com o objetivo de informar, os Jornalistas Livres resolveram analisar algumas das declarações de Bolsonaro no debate de ontem (30):
“Nós fomos um governo que atendeu aos mais humildes, aos mais pobres.”
Bolsonaro mente. A resposta foi dada ao “padre” Kelmon, que perguntou ao presidente se ele manteria os R$ 600 de auxílio caso eleito. Primeiro, que a alegação de que seu governo foi o que mais ajudou os mais pobres é falsa. Desde que assumiu, o valor real do salário mínimo cai e o poder de compra das famílias nunca foi tão baixo. Em agosto, Bolsonaro levou ao Congresso Nacional, a proposta que previa para 2023 um salário mínimo de R$ 1.302, que é abaixo do índice da inflação. Em 2011, Dilma instituiu a política de reajuste do mínimo, que previa a correção do salário com base na inflação do ano anterior mais um aumento com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores. Ou seja, o salário mínimo crescia acima da inflação. Essa política foi aniquilada em 2019, quando Jair Messias Bolsonaro passou a ocupar a cadeira da presidência. Desde de 2019, o poder de compra dos pobres despenca. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo socioeconômico (DIEESE), o piso de 2022 não é suficiente para comprar sequer uma cesta básica na cidade de São Paulo. Mas Bolsonaro não para por aí, continua:
“No tempo do Lula, o Bolsa Família era em média R$ 190, e quem conseguisse emprego perdia o Bolsa Família. (…) No nosso governo nós botamos R$ 600.”
Bolsonaro mente. Falar que “nós botamos R$ 600” de Auxílio Brasil é achar que o povo não tem memória. Mesmo que o presidente tente exibir o programa como fruto do seu trabalho, o Auxílio Brasil foi, na verdade, resultado de muita pressão política e social. Enquanto Bolsonaro insiste em dizer que “deu R$ 600 ao povo” e que fez muito aos mais pobres, ele omite que a sua versão do programa era de apenas R$ 200, limitado a trabalhadores informais e de duração de três meses. Quem apresentou os R$ 600 foi a oposição no Congresso Nacional. É importante lembrar: em 2020, Bolsonaro foi contra o auxílio emergencial de R$ 600, e chegou a reduzir o valor e até a suspender o pagamento. Agora, perto das eleições, resolveu mudar de ideia?
Bolsonaro mente. O ex-presidente Lula governou o país entre 2003 e 2010. Quando ele expandiu o programa Bolsa Família em 2004, o valor médio do benefício por família estava em cerca de R$ 180, valor corrigido pela inflação. Entretanto, a comparação é anacrônica, pois ignora os tempos históricos. Primeiro, que na década 10 o mundo não enfrentava uma pandemia que deixou 9,7 milhões de trabalhadores em suas casas sem fonte de renda. Segundo, que o poder de compra do trabalhador era muito maior que hoje em dia. Se durante o governo Bolsonaro, o salário mínimo, na cidade de São Paulo, não compra ao menos uma cesta básica, durante o governo Lula e Dilma, comprava duas. No governo Bolsonaro, os alimentos ficaram 180% mais caros, ou seja, as famílias quase triplicaram os custos com o mercado.
Bolsonaro mente. Nunca houve uma regra que retirasse o direito ao Bolsa Família se o befeiciário do programa ficasse empregado. “Os beneficiários do Bolsa Família que entram para o mercado formal de trabalho com carteira assinada não perdem necessariamente o direito ao benefício. O principal critério para permanecer no programa é a renda familiar”, como disse o governo na época.
“E outra coisa, quando nós negociamos passar o Bolsa Família para o Auxílio Brasil na câmara, toda a bancada do PT votou contra”
Bolsonaro mente. A bancada do PT nunca votou contra o Auxílio Brasil. Em novembro de 2021, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC dos Precatórios, que também servia para viabilizar o Auxílio Brasil. O PT e outros partidos orientaram suas bancadas a votarem contra, uma vez que a aprovação da PEC significava o furo do teto de gastos e o adiamento do pagamento das dívidas públicas do Governo Federal. O Partido dos Trabalhadores, entretanto, não foi contra o Auxílio, apenas defendeu que existiam outras maneiras de aprovar o benefício sem que fosse necessário aumentar os gatos. O governo ignorou sugestões para o Auxílio Brasil que teriam protegido os gastos públicos.
“O ex-presidiário (…) fala que eu atrasei compra de vacina. Nenhum país do mundo comprou vacina em 2020. Para de mentir!”
Quem mente é Bolsonaro. Em 5 de dezembro de 2020, a Rússia já havia iniciado a vacinação da população com a vacina Sputnik. No dia 8, o Reino Unido vacinou a primeira pessoa contra a Covid-19 e em setembro o país já havia assegurado a compra de 90 milhões de doses de vacina. Até 31 de dezembro de 2020, quase 50 países já tinham começado a vacinação. O próprio João Doria, governador de São Paulo, assinou em setembro um contrato com o laboratório Sinovac e Instituto Butantan para o recebimento de 46 milhões de doses de vacina Coronavac.
“Nós temos no Brasil, 2/3 da nossas florestas preservadas da mesma maneira que quando Pedro Alvares Cabral aqui chegou. (…) No corrente ano, não tivemos notícias de incêndios, nem no seu Pantanal e nem na Floresta Amazônica”.
Bolsonaro mente. Em resposta a candidata Tebet sobre o que fará para preservar as florestas, Bolsonaro tenta esconder que o desmatamento da Amazônia vem batendo recordes ano após ano durante o seu governo. Levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelou que o desmatamento na floresta, de agosto de 2021 a julho de 2022, foi o maior dos últimos 15 anos. Embora o presidente diga que não existam notícias sobre incêndios no Pantanal ou na Amazônia esse ano, foi o próprio governo federal que em agosto de 2022 reconheceu situação de emergência em 14 cidades de Mato Grosso do Sul por causa de incêndios. No mesmo mês, um incêndio atingiu uma das áreas mais preservadas da Serra do Amolar no Pantanal de MSO. Na Amazônia, o número de queimadas em setembro de 2022 já superou o ano inteiro 2021. O Governo Federal tem o papel impor medidas que ajudem a diminuir as queimadas, entretanto Bolsonaro caminhou no sentido contrário, diminuindo a fiscalização e as verbas do Ibama.
Bolsonaro mente. Nós não temos a floresta preservada da mesma maneira que era em 1500 e nem 2/3 das florestas preservadas. Seria até cômico pensar que quando Pedro Álvares Cabral pisou em solo brasileiro a Faria Lima já estava posta. Levantamento feito pelo consórcio MapBiomas demonstrou que o Brasil tinha 66% de seu território coberto por vegetação nativa em 2021, o que, de fato, equivale a dois terços do total. Entretanto, a mesma pesquisa expõe que essas áreas não são conservadas totalmente. O estudo revela que 8,2% de toda vegetação nativa existente são áreas que já foram desmatadas ao menos uma vez desde 1985 ou já estavam desmatadas. Ou seja, seria inviável afirmar que o Brasil se mantém da mesma maneira desde seu “descobrimento”.
Com essa afirmação, Bolsonaro tenta esconder que no período de agosto de 2018 a julho de 2021, o desmatamento no bioma aumentou 56,6% em relação a anos anteriores, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Já o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) demonstrou que de agosto de 2021 a julho de 2022, o desmatamento na Amazônia foi o maior em 15 anos. E de acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que monitora a região com imagens de satélites, foram derrubados 10.781 km² de floresta, o que representa sete vezes a cidade de São Paulo.
“Só na Petrobras o endividamento foi a R$ 900 bilhões no seu governo. Dava para fazer a transposição do São Francisco 300 vezes.”
Bolsonaro mente. A declaração foi feita sobre o governo Lula. Ao contrário do que Bolsonaro diz, a Petrobras não teve endividamento de R$ 900 bilhões por causa de corrupção durante os governos petistas. Em 2015, a Polícia Federal estimou as perdas por irregularidades investigadas pela Operação Lava Jato representavam de R$ 42,8 bilhões. Já a própria Petrobras, no mesmo ano, divulgou oficialmente um rombo de R$ 6,2 bilhões em seu balanço financeiro por conta de irregularidades. A empresa afirma, entretanto, que até 2021 houve a devolução de R$ 6,17 bilhões por meio de acordos de colaboração.
Em 2014, a dívida bruta da Petrobrás chegou a ser altíssima, atingindo R$ 864 bilhões pela cotação atual do dólar. De qualquer forma, Bolsonaro mente ao relacionar esse número a corrupção da gestão. Pelo menos cinco fatores colaboraram com o aumento do endividamento da estatal nesse ano: políticas de congelamento do preço de combustíveis, subsídios ao gás de cozinha, aumento dos gastos com importações, queda do preço do petróleo no mercado internacional e, por fim, as perdas com corrupção. Esse levantamento foi feito por uma reportagem especial do UOL.
“Você sabe que o orçamento secreto não é meu. Eu vetei. Depois passou e virou uma realidade.”
Bolsonaro mente. O presidente não vetou o Orçamento Secreto, o projeto, na verdade, foi criado e assinado por Bolsonaro, permitindo o pagamento de R$ 65 bilhões. Em 2019, de fato, Bolsonaro vetou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) que apresentava o Orçamento Secreto e o Congresso Nacional não conseguiu derrubar o veto. No entanto, o que Bolsonaro se esquece de dizer é que ele recuou logo em seguida do próprio veto. Segundo o jornalista do Estadão, Daniel Weterman,“Bolsonaro abriu mão de decidir o que fazer com o dinheiro público em troca de apoio no Congresso e de preservar seu mandato de pedidos de impeachment.”
Ainda em 2019, Bolsonaro concedeu R$ 30 bilhões em emendas do Orçamento Secreto. Poder para vetar os recursos ele tinha, mas não o fez e autorizou o pagamento de 100% das verbas indicadas pelo Congresso. Em três anos, Bolsonaro entregou R$ 65 bilhões ao Centrão.
“Me aponte uma fonte de corrupção, não tem.”
Bolsonaro mente. Em resposta a Ciro Gomes, Bolsonaro insiste em negar os casos de corrupção de seu governo, mas nem o povo acredita mais. De acordo com a pesquisa Datafolha, 7 a cada 10 brasileiros acreditam que existe corrupção na atual gestão governamental. Errados não estão. Neste mês, os Jornalistas Livres fizeram uma matéria relembrando os principais casos de desvio de dinheiro envolvendo a trupe de Bolsonaro. Acompanhe aqui algumas de nossas matérias:
Bolsonaro e família compraram 51 imóveis com dinheiro vivo
PF encontra transações suspeitas em gabinete de Bolsonaro; STF quebra sigilo
Bolsonaro mente!
Na cova dos bandidos: candidatura de Fabrício Queiroz é um reflexo da corrupção do governo Bolsonaro
Bolsoanaro mente!
Para Bolsonaro, sua vida vale um dólar
Bolsonaro mente!
Relembre os casos de corrupção que assolam o governo Bolsonaro
Bolsonaro mente!
“Que rachadinha? Rachadinha ‘é seus’ filhos roubando milhões de empresas após a sua chegada no poder.”
Bolsonaro mente. Fábio Luis Inácio Lula da Silva foi investigado por receceber R$ 100 milhões do grupo Oi/Telemar para suas empresas Gamecorp/Gol. Entretanto, o processo foi arquivado em 2022. O arquivamento se deu após ocorrer a suspensão de processos do juiz Sérgio Moro em relação a Lula e pessoas próximas. O juiz, que depois se tornou ministro do governo Bolsonaro, foi acusado de cometer excessos durante a investigação da Lava Jato, quando deveria apenas julgar.
Em março de 2022, também foi suspenso outro processo contra o filho Luis Cláudio da Silva, que era acusado por tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Operação Zelotes. A defesa argumenta que os diálogos de procuradores mostram que eles sabiam que não havia ilegalidade na conduta do filho e do ex-presidente.
“Nós temos hoje as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc para atender o artista no início da sua carreira”
Bolsonaro omite. Em dobradinha com o “padre” Kelmon, o presidente falou que as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc foram feitos do seu governo na área da cultura. Só não mencionou um detalhe: ele vetou as duas leis. Os projetos apenas entraram em vigor após o Congresso Nacional derrubar os vetos em julho. Quando a Lei Paulo Gustavo foi aprovada pelo Senado em 15 de março deste ano, o ex-secretário da Cultura, atual candidato a Deputado Federal Mário Frias (PL), disse em suas redes que o projeto era inconstitucional e “absurdo”. No debate desta quinta (29), Bolsonaro elogiou o trabalho de Frias por ter moralizado a Lei Rouanet, que desrespeitava a família brasileira: “Parabéns, Mário Frias, boa sorte como Deputado Federal”. Em abril, o presidente também declarou que a Lei Aldir Blanc 2 era inconstitucional e “contrária ao interesse público”.