Horas antes de trecho revelado por Cid à PF vir à tona, contando que ex-presidente se reuniu com comandantes das Forças Armadas após derrota, ele teve “desconforto”
POR HENRIQUE RODRIGUES, COMPARTILHADO DA REVISTA FÓRUM
Poucas horas antes da publicação na imprensa de trechos vazados da delação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, em que o ex-ajudante de ordens teria revelado a realização de uma reunião de seu então chefe com os comandantes das Forças Armadas para se discutir um golpe de Estado após a derrota eleitoral sofrida para Lula (PT), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve um “desconforto intestinal” e foi internado no Hospital DF Star, na noite de quinta-feira (20).
Levado à unidade de saúde privada, uma das mais caras e luxuosas do país, o extremista “realizou exames do tráfego digestivo, dentre eles a lavagem intestinal”, publicou Fabio Wajngarten, o ex-chefe da Secom que segue sendo uma espécie de porta-voz informal do antigo mandatário e que já recebeu R$ 563 mil do PL para “prestar serviço de assessoria de comunicação ao presidente de honra” da sigla, oriundos do fundo partidário, ou seja, de dinheiro público.
Na última semana Jair Bolsonaro foi a São Paulo para realizar alguns procedimentos cirúrgicos no Hospital Vila Nova Star. Ele fez uma undoplicatura endoscópica, procedimento para tratar refluxo, uma septoplastia, para corrigir um desvio de septo, uma turbinectomia, que é a intervenção nos cornetos nasais, e uma uvulopalatofaringoplastia, cirurgia feita na garganta, tudo para que tenha uma melhora em sua condição respiratória. No entanto, desde os dias que antecederam os procedimentos médicos invasivos, a assessoria do antigo ocupante do Palácio do Planalto relacionava as cirurgias às complicações originadas no episódio da facada no abdômen, ocorrido em setembro de 2018, o que não é verdade.
Tentativa de golpe confirmada
Em delação à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid revelou detalhes de uma reunião de Jair Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas, na qual o ex-presidente buscou apoio dos militares para um golpe de Estado, chegando a apresentar uma minuta que previa a prisão de adversários políticos.
Cid afirmou ainda que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para o golpe. No entanto, os comandos do Exército e da Aeronáutica não teriam aderido às ideias golpistas.
Também teriam participado da reunião os ministros militares daquele governo, que à época tinha, entre outros, o ex-comandante do Exército general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, na Defesa, além de Augusto Heleno, do GSI, e Luis Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Na delação, Cid conta ainda que a minuta golpista chegou às mãos de Bolsonaro por meio do olavista Filipe Martins, então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, que teria levado um advogado e um padre na reunião para explicar detalhes do documento – o tenente-coronel disse não se lembrar dos nomes dos dois.