Na manhã desta quarta-feira (23), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi formalmente intimado por uma oficial de Justiça dentro da UTI do Hospital DF Star, em Brasília. O mandado, expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), refere-se ao processo em que Bolsonaro é investigado por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada.
Por Esmael Morais, compartilhado de seu Blog
Segundo a defesa, o ex-presidente sofreu “oscilações de pressão arterial” após o encontro com a oficial. No entanto, o vídeo do momento — divulgado pela própria assessoria — mostra Bolsonaro conversando com clareza e reagindo com indignação à abordagem judicial em pleno leito hospitalar.
A decisão do STF de realizar a intimação dentro do hospital veio logo após Bolsonaro participar de uma live política, diretamente da UTI, ao lado de seus filhos e de apoiadores como Nelson Piquet. Na transmissão, o ex-presidente apareceu animado, comentando assuntos políticos e promovendo um capacete personalizado.
Diante disso, o Supremo considerou que Bolsonaro estava em plenas condições de ser citado. Em nota, a Corte afirmou:
“A divulgação de live realizada pelo ex-presidente demonstrou a possibilidade de ser citado e intimado hoje.”
Nos bastidores, ministros do STF reagiram com irritação ao que consideraram uma tentativa de vitimização e manipulação midiática por parte do ex-presidente.
Durante a abordagem judicial, Bolsonaro questionou: “A senhora tem ciência de que está em uma sala de UTI?”. Em seguida, acusou o ministro Alexandre de Moraes de perseguição política e voltou a reclamar de inquéritos sob sigilo. “Querem me tirar da vida pública”, afirmou, antes de assinar o documento.

Entre os aliados, a cena gerou reações opostas: uns classificaram a intimação como “abuso de autoridade”; outros acreditam que o vídeo pode prejudicar Bolsonaro, ao demonstrar lucidez suficiente para responder a um processo judicial, mesmo internado.
O episódio remete à estratégia já conhecida de Bolsonaro: usar o próprio estado de saúde como argumento político. Desde a facada em 2018, episódios de internação do ex-presidente tornaram-se momentos de mobilização simbólica entre apoiadores.
Mas, desta vez, a narrativa pode estar saindo pela culatra. A presença da Justiça na UTI e a divulgação do vídeo trouxeram de volta o foco para o processo que o STF conduz contra Bolsonaro. No centro das investigações está a suspeita de articulação para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023.
Com a citação formalizada, a defesa do ex-presidente tem até o dia 28 de abril para apresentar sua resposta ao STF. O processo segue sob sigilo, mas já se sabe que há farta documentação — incluindo mensagens trocadas entre militares e civis — sobre a tentativa de ruptura institucional.
Bolsonaro segue internado, ainda sem previsão de alta, segundo boletim médico. Ele está em jejum, alimentando-se por via endovenosa, após passar por novo procedimento cirúrgico.
O episódio escancara o enredo em que política, saúde e Justiça se misturam perigosamente. A presença de uma oficial de Justiça na UTI não apenas marca um momento inédito — e polêmico — da política brasileira, mas lança nova luz sobre o processo que pode selar o futuro político de Jair Bolsonaro.
Enquanto a polarização aquece nos bastidores, fica a pergunta no ar: será essa a última batalha do ex-presidente ou o início de uma nova narrativa?
Aqui está a íntegra do vídeo: