A verdade é uma só: os imóveis foram comprados com dinheiro vivo. Ainda assim, tentam confundir a denúncia para não prestar contas ao eleitor
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Bolsonaro tenta enganar eleitor sobre uso de dinheiro vivo na compra de imóveis
Bolsonaro sentiu. E sentiu muito. Após a repercussão de reportagem dos jornalistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, do UOL, que denuncia a compra pelo clã Bolsonaro de ao menos 51 imóveis pagos totalmente ou parcialmente em dinheiro vivo, o presidente, seus ministros e seguidores tentam desesperadamente fazer crer que dinheiro não é dinheiro.
Em entrevista à Jovem Pan, um nervoso Bolsonaro, além de ser machista com a entrevistadora, tergiversou a respeito das expressões “moeda corrente nacional” e dinheiro vivo”. O presidente tenta convencer que “moeda corrente nacional”, termo cravado em alguns dos negócios imobiliários citados na reportagem, não quer dizer, necessariamente, dinheiro em espécie, mas engloba meios de pagamento como transferência bancária, cheque ou PIX. “Em qualquer escritura está escrito moeda corrente”, disse.
Em vídeo constrangedor, o ministro das comunicações e genro do empresário do dono do SBT, Fábio Faria, simula uma espécie de aula sobre a diferença entre os dois termos. Fazem de tudo para não explicar de onde saiu esse dinheiro. Afinal, no Brasil de 2022, quem paga por imóveis em dinheiro vivo?
As tentativas de convencimento da população, no entanto, caíram por terra mais uma vez a partir da publicação, nessa sexta-feira (9), de outra reportagem dos mesmos jornalistas descrevendo as evidências de uso de dinheiro vivo nas compras de cada um dos 51 imóveis.
Algumas das escrituras consultadas pelo UOL trazem expressões ainda mais precisas sobre o uso de dinheiro vivo, como moeda “contada e achada certa” ou “em espécie”. A reportagem também se baseia em entrevistas com parte dos vendedores e consultas aos próprios cartórios de notas.
De acordo com o levantamento do UOL, as compras registradas nos cartórios como feitas “em moeda corrente nacional”, ou seja, em dinheiro vivo, totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pela inflação, o montante equivale hoje a R$ 25,6 milhões. Compras realizadas por meio de cheque ou transferência bancária, somaram R$ 13,4 milhões (R$ 17,9 milhões corrigidos pela inflação).
A reportagem narra que, no Rio de Janeiro, o Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça estadual determina desde 1999 que na lavratura de atos notariais conste a declaração de que foi pago em dinheiro ou em cheque, no todo ou em parte, discriminando, neste caso, valor, número e banco contra o qual foi sacado.
Em algumas das escrituras dos imóveis ligados à família Bolsonaro constam expressões ainda mais claras em relação ao uso de dinheiro vivo, como “moeda contada e achada certa”.
Em relação a um dos imóveis citados – um apartamento na Barra da Tijuca no valor de R$ 2,5 milhões – o próprio Flávio Bolsonaro admitiu ter pagado o bem em espécie. As transações foram identificadas pelo Ministério Público. Da mesma forma, o MP identificou que o pagamento de uma cobertura em Laranjeiras coincide com depósitos em espécie oriundos do esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio De Janeiro (Alerj).