Braga Netto e Nunes: generais dão desculpa esfarrapada sobre nomeação de preso por assassinato de Marielle

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Nomeado por Michel Temer para o comando da Intervenção no Rio, Braga Netto culpou general subordinado a ele pela nomeação de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil preso com os irmãos Brazão.

Os generais Walter Braga Netto (à esquerda) e Richard Nunes..Créditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum




Nomeado por Michel Temer (MDB) para comandar a intervenção federal no Rio de Janeiro um mês antes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, deu uma desculpa esfarrapada sobre a nomeação de Rivaldo Barbosa como chefe da da Polícia Civil.

Preso juntamente com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão neste domingo (24), Barbosa foi nomeado em decreto assinado por Braga Netto no dia 13 de março de 2018, um dia antes do crime.

Em delação, Ronnie Lessa, executor do duplo assassinato, disse que o delegado planejou o homicídio e garantiu impunidade aos irmãos Brazão e aos envolvidos na morte de Marielle e Anderson.

Em nota divulgada nas redes sociais, Braga Netto diz que assinou a nomeação de Rivado Barbosa “por questões burocráticas”.

“Por questões burocráticas, o ato administrativo era assinado pelo interventor federal que era, efetivamente, o governador na área de segurança pública no RJ”, diz o texto.

Braga Netto, que deixou a intervenção para assumir o comando do Estado-Maior do Exército antes de assumir a Casa Civil no governo Bolsonaro em 2020, se exime da responsabilidade pela nomeação e culpa o general Richard Fernandez Nunes, nomeado por ele como Secretário de Segurança Pública do RJ durante a intervenção.

“Durante o período da intervenção federal na área de segurança pública no estado do Rio de Janeiro, em 2018, a Polícia Civil era diretamente subordinada à Secretaria de Segurança Pública”, diz a nota assinada pelos advogados de Braga Netto.

Ludibriado

Apontado pelo seu comandante como responsável pela nomeação de Rivaldo Barbosa, o general Richard Fernandez Nunes, deu também uma desculpa esfarrapada para se eximir da responsabilidade.

Em entrevista à Fábio Victor, na Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (25), o militar diz ter sido “ludibriado”.

“Eu nunca percebi, e eles até acham que me ludibriaram. Eu posso ter sido ludibriado, como a sociedade inteira, né? A sociedade inteira foi ludibriada”, diz Nunes, que atualmente integra o Alto-Comando do Exército.

Na investigação, a Polícia Federal (PF) usa o mesmo termo, dizendo a trama encabeçada por Rivaldo Barbosa teve o condão de ludibriar, inclusive, um general quatro estrelas do Exército Brasileiro” – à época Nunes tinha 3 estrelas.

Nunes ainda comentou a nota de Braga Netto, que o aponta como responsável pela nomeação.

“A escolha foi minha, eu nunca disse nada em contrário. Não sei por que ele sentiu necessidade de colocar uma nota acerca disso. Para quem conhece os meandros da administração pública, sabe que isso é uma coisa natural”, afirmou.

Em depoimento à PF sobre a investigação, Nunes disse que o nome de sua preferência para assumir o comando da Polícia Civil era outro.

“Ia fazer a escolha apesar do nome do delegado Delmir não constar na lista encaminhada pela inteligência do CML, mas ele não aceitou o convite. Assim, escolheu o nome de Rivaldo Barbosa para tal cargo, nome esse que constava em tal lista”, disse.

Mesmo diante de contraindicações, o general bancou a indicação de Barbosa.

Na entrevista à Folha, o militar diz que não tirou o delegado do “ostracismo”.

“Ele era o delegado chefe da Divisão de Homicídios. Eu não o tirei do ostracismo. Ele era um cara conceituado, reconhecido, tanto que, quando foi indicado, a repercussão foi muito favorável. Esse era o Rivaldo de março de 2018”.

Ao deixar o comando da segurança pública do Rio, em dezembro de 2018, Nunes antecipou, em entrevista ao Estadão, a motivação do assassinato de Marielle Franco – o mesmo que consta no relatório da Polícia Federal divulgado neste domingo.

“A milícia atua muito em cima da posse de terra e assim faz a exploração de todos os recursos. E há no Rio, na área oeste, na baixada de Jacarepaguá, problemas graves de loteamento, de ocupação de terras. Essas áreas são complicadas. [E Marielle fazia] uma conscientização daquelas pessoas sobre a posse da terra. Isso causou instabilidade e é por aí que nós estamos caminhando. Mais do que isso eu não posso dizer”, disse.

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