Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
As barbaridades diárias do governo Bolsonaro estão escandalizando o mundo civilizado e, por consequência, isolando o País. É inevitável que até estrangeiros comparem as posturas medievais de agora com o esplendor da era Lula em que Brasil era sinônimo de çação que estava dando certo.
As loucuras da diplomacia comandada por Ernesto Araújo competem com a vergonhosa submissão a Donald Trump. Difícil saber qual desperta mais vergonha. Apesar do quadro desolador, é no Exterior, porém, que a brutalidade do governo da extrema-direita começa a indicar dificuldades para as selvagerias de Bolsonaro.
O atual governo brasileiro tem alguns problemas insolúveis para compatibilizar seus absurdos com os europeus, principalmente. Para satisfazer mineradoras, madeireiros e o setor mais atrasado da agricultura, Bolsonaro desmontou os órgãos de fiscalização e praticamente liberou o desmatamento da Amazônia.
O ruído internacional já é público. Alemanha e Noruega, provedores de fundo em defesa da Amazônia, já estão em rota de colisão com o desastrado ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales.
Sem nenhuma noção, Sales quis alterar a governança do fundo, o que foi rechaçado pelos dois países mantenedores.
Em pouco tempo, é claro que o projeto bolsonarista de acabar com o “pulmão do mundo” será acossado por sanções internacionais. Não é à toa que o setor exportador do agronegócio já manifestou preocupação com a abordagem que Sales dá à questão do desmatamento. Sabem que correm o risco de as ideias medievais custarem caro a seus bolsos.
Essa encrenca interna do bolsonarismo entre o agro mais medieval e o exportador soma-se à liberação irresponsável de agrotóxicos patrocinada pelo Ministério da Agricultura. Não é preciso ser especialista no assunto para antever problemas para produtos brasileiros no mercado internacional.
Outra ponta que não fecha é o compromisso que Bolsonaro com igrejas evangélicas e com o governo de Israel de transferir a embaixada brasileira naquele país de Tel Aviv para Jerusalém.
O projeto fundamentalista em questão já esbarrou no temor justificado de retaliação de países da região às exportações brasileiras, principalmente de carne de frango.
A visão de mundo de Bolsonaro e seus fanáticos é incompatível com os valores europeus, com exceção de governos como o da Hungria. Para se ter ideia do descompasso, basta recorrer à insuspeita Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa. Le Pen, quando perguntada sobre proximidades possíveis com o presidente brasileiro, rebateu imediatamente. “O senhor Bolsonaro tem opiniões bastante desagradáveis”, cravou.
O que isso quer dizer? Bolsonaro está pendurado totalmente em Trump, o que o torna mais ainda serviçal do americano. Sabendo disso, apressou os trâmites e tenta enviar seu filho para a embaixada em Washington, em espetáculo constrangedor e despudorado de nepotismo.
É possível que a demência encastelada no Itamaraty de Ernesto Araújo continue seguindo as ordens de Olavo de Carvalho e estique a corda mais ainda. Nunca menospreze o potencial de loucura dessa gente. Se essa hipótese prevalecer, servirá para unificar ainda mais a base ideológica de extrema-direita, que hoje é calculada entre 20% a 30% da população. Isso, no entanto, é insuficiente para assegurar governabilidade e a manutenção das ideias primitivas acabaria por rachar a base de apoio que elegeu Bolsonaro.
Afinal, nem todos querem rasgar dinheiro para pagar o bônus ao ideário primitivo, a começar pelos barões do agronegócio exportador.
Enfim, enquanto não surgir um movimento de rua vigoroso para emparedar Bolsonaro, teremos o aprofundamento das contradições no consórcio reacionário que o elegeu e o isolamento internacional maior dos brasileiros.
É ruim, é chato para um país que tinha imagem alegre e simpática no mundo e que agora se vê despido de sinais de civilidade por causa de seu governo. Mas, como tudo na vida, as presepadas da extrema-direita vão mostrar até a brasileiros sem-noção que um governo assim não é compatível com o tempo atual.