Por Reginaldo Ramos, publicado em Brasil 247 –
O atentado contra Lula é um atentado contra a democracia. Isso até mesmo o editorial do Globo concordou, provavelmente temendo uma comoção opinião pública. Tenho tido muito cuidado com o uso da palavra “fascista”. Tenho certeza que ela foi muito má empregada nesses últimos tempos extremamente polarizados.
Porém, a perseguição ao ex-presidente Lula chegou ao seu nível mais violento nessa caravana pelo sul do país. O fascismo é isso; é preconceito de classe, é fazer o que for preciso para deter um adversário e é exatamente isso o que está acontecendo.
Os ataques foram sim fascistas e visaram atingir toda uma corrente política. Caminhamos a passos largos para a barbárie. A necessidade de eliminar o diferente não se dá apenas porque Lula se mostra imbatível eleitoralmente, esse ódio criminoso vem de longe, e foi alimentado nos últimos anos. As ameaças sofridas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e o brutal assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, atestam isso bem.
Plantou-se o preconceito e a intolerância. Sabotaram para depois derrubar o governo de uma presidenta eleita. Todo um clima odiento foi inflado, mentiras e simplificações baratas espalhadas e um inimigo nacional foi escolhido pelos poderosos que controlam os meios de comunicação e influenciam movimentos de direita.
Com apoio da grande mídia, conseguiram sustentar uma narrativa de que o governo de Dilma, que tinha (erroneamente) Joaquim Levy no ministério da Fazenda, era comunista e jogava “brasileiros contra brasileiros”. E pior, que as nossas riquezas estavam indo para fora do Brasil.
O resultado foi o governo Temer, não sem antes os “manifestoches” virarem “milhões de Cunhas”. Hoje sim, nosso patrimônio está sendo vendido, a nossa soberania dilapidada e os direitos sociais duramente atacados.
O candidato derrotado à presidência em 2014, Aécio Neves, tinha uma grande responsabilidade nas mãos; aceitar o resultado das urnas, reconhecer o governo eleito e pacificar o país. Fez o contrário. Plantou o ódio e o golpismo, desonrando o próprio avô, Tancredo Neves, que em encruzilhadas histórias semelhantes sempre se colocou ao lado da democracia e da soberania nacional.
Devido às medidas antissociais de Temer ao clima criado, a casta política que ascendeu ao poder com o golpe não deverá integrar o segundo turno da eleição. Plantaram ódio e colheram Bolsonaro, a personificação do preconceito e da ignorância, em todos os aspectos.
Melancolicamente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, parece querer se confundir com Bolsonaro. Ele chegou a afirmar (depois mudou o tom) de que Lula estava colhendo o que havia plantado…
O que Lula plantou foi a democracia, foram oportunidades. Plantou a paz e a solidariedade, inclusive em outros países do mundo, sendo a mais importante liderança contra a fome do mundo. Diferente do fascismo, que persegue setores da sociedade, Lula trabalhou pela união nacional. Diferente dos seus atuais algozes, Lula semeou esperança e otimismo no Brasil, mesmo com todos os seus problemas estruturais.
Os tiros foram dados justamente no único estado que não ofereceu escolta ao ex-presidente, o Paraná, governado pelo PSDB. O governo paranaense substituiu o delegado que investigava o atentado, que defendia a ideia de ter sido uma tentativa de homicídio. O atual já considera o feito como um atentado patrimonial.
Esse atentado à democracia, a Lula e a todos o que acompanham a caravana democrática não pode ficar impune. O futuro do nosso país passa por como reagiremos diante dessa barbaridade.