Por Marcella Fernandes, compartilhado de Huffpost Brasil –
Média de novas mortes estável nas últimas semanas deve subir, alerta pesquisador da USP.
A pandemia do novo coronavírus segue avançando no Brasil. São 91.263 mortes acumuladas, de acordo com levantamento do Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), com dados compilados até 18h desta quinta-feira (30). São 1.129 óbitos a em relação a quarta. É a 41ª vez em que há mais de mil óbitos confirmados de um dia para o outro.
Em números absolutos, o estado de São Paulo lidera o ranking de vítimas fatais, com 22.710 óbitos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 13.348, Ceará (7.661), Pernambuco (6.526) e Pará (5.699).
Quanto ao número de casos, de quarta para quinta foram 56.827 novos confirmados. O acumulado é de 2.610.102.
Apesar de ter sido observado certo arrefecimento nas grandes capitais, como Manaus (AM) e São Paulo, a crise sanitária segue grave em boa parte do País. Quando olhamos os dados acumulados, os gráficos epidemiológicos brasileiros assumiram a forma de platô, em vez de um pico de casos e mortes acumulados. Por outro lado, os casos e óbitos diários, que indicam o ritmo da epidemia, não estabilizaram.
De acordo com o pesquisador Domingos Alves, do grupo Covid-19 Brasil, na análise de casos e óbitos diários, não há platô. “No número de novos casos e de novos óbitos o conceito é atingir o pico e não atingimos o pico. Quando você olha o número de novos casos, a partir de 20 a 22 de julho, o número de novos casos no Brasil começou a aumentar de novo”, afirma o professor do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo).
Em 22 de julho, foram registrados 67.860 novos casos. O recorde foi superado nesta quarta, com 69.074 registros. “Não tem estabilidade. Quando você olha a média móvel, existem períodos, como entre 6 e 17 de junho ou de 29 de junho até 17 de julho em que o número de novos casos não cresceu tanto. Mas entre 19 de junho e 28 de junho teve um aumento importante e mais recentemente, essa outra alta”, aponta Domingos Alves.
O grupo Covid-19 Brasil reúne cientistas de universidades brasileiras e de centros de pesquisa como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Universidade Johns Hopkins (EUA).
Houve uma inversão de comportamento ao longo do tempo, com a interiorização da epidemia. Segundo boletim mais recente do Ministério da Saúde, 5.475 (98,2%) dos municípios têm casos confirmados de covid-19 e 3.476 (52,4%) cidades registraram mortes causadas pela covid-19. A curva de casos acumulados das capitais está diminuindo, e a dos interiores está aumentando, mas a segunda ainda não ultrapassou a primeira.
Na análise do pesquisador da USP, os casos do interior e de regiões até então menos afetadas pelo vírus, como o Sul e o Centro-Oeste, “vão começar a ser mais importantes do que os números das capitais”, e, por consequência, devem elevar a média diária de óbitos até a próxima semana. ”Há um crescimento médio por dia ainda observável e mantendo uma média de mil óbitos por dia. Essa tendência de estabilidade da média móvel nas últimas 3 ou 4 semanas vai mudar a partir dessa semana e da próxima. Isso vai voltar a crescer”, alerta.
Mortes crescem em 4 regiões do País
A semana encerrada em 25 de julho foi uma das mais graves da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Houve um recorde de casos registrados da covid-19, com 319.653 notificações, um aumento de 36% em relação à semana anterior. No mesmo período, foram registradas 7.677 mortes, um crescimento de 5%. Os números são de boletim divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quarta.
A média diária de casos registrados na semana epidemiológica 30, encerrada em 25 de julho, foi de 45.665. O número era 33.573 na semana anterior.
Já a média diária de óbitos na última semana analisada foi de 1.029, contra 1.043 da semana anterior e mesmo número na semana 28, encerrada em 11 de julho.
Na comparação entre as duas últimas semanas epidemiológicas analisadas no boletim, no Sul do País, foi registrado aumento de 25% no número de casos e de 18% nas mortes. No Centro-Oeste, houve acréscimo de 63% nos diagnósticos e de 7% de óbitos no mesmo período. No Sudeste, houve acréscimo de 17% nos casos e de 9% de mortes.
No Nordeste os diagnósticos cresceram 27% nas comparação entre as semanas encerradas em 18 de julho e 25 de julho. Já o número de mortes no período caiu 8%. Na região Norte, os casos cresceram 8% e os óbitos, 13%.
De acordo com o Ministério da Saúde, até 25 de julho foram registradas 479.819 hospitalizações por SRAG. Desse total, 236.852 (49,4%) foram confirmados para covid-19, 154.663 (32,2%) não têm causa especificada, 82.617 (17,2%) estão com investigação em andamento e o restante foi causada por outros vírus respiratórios.
Do total de internados com covid-19, a raça/cor mais prevalente é a parda (31,3%), seguida da branca (29,3%), preta (4,6%), amarela (1,0%) e indígena (0,3%). Sendo que em 33,5% estavam sem informação.
Do total de 126.108 óbitos por SRAG, 83.966 (66,6%) foram confirmados para covid-19, 37.495 (29,7%) não têm causa especificada, 3.840 (3,0%) estão com investigação em andamento e o restante foi causado por outros vírus respiratórios.
Entre as vítimas da pandemia, 58% são do sexo masculino e 72,1% estava acima dos 60 anos, segundo o boletim. O perfil de raça/cor se manteve, sendo a parda (35%) a mais frequente, seguida da branca (26,6%), preta (5%), amarela (1,1%) e indígena (0,4%) e 32% estava em branco. Ainda de acordo com o documento, (61,5%) apresentavam pelo menos uma comorbidade ou fator de risco para a doença.
Brasil é segundo no ranking mundial
Ao analisar o ranking mundial, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos e é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.
Os dois países repetem as posições também em relação aos diagnósticos. No território norte-americano, foram registrados mais de 4,4 milhões de casos. A diferença das taxas de testagem entre os dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos EUA e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – por sua vez, é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
O novo coronavírus já causou mais de 667 mil óbitos no mundo. São cerca de 17 milhões de casos confirmados, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins atualizados nesta quarta.
De acordo com boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta, a incidência da doença é de 11.394,5 casos por milhão de habitantes enquanto que a taxa de mortalidade é de 411,4 por milhão de habitantes. Na comparação com outros países com mais de um milhão de habitantes, o Brasil ocupa a 10ª posição tanto no ranking de diagnósticos quanto de mortes.
Subnotificação da pandemia
Em junho, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta deixou de informar o acumulado de mortes e diagnósticos em 5 de junho. A divulgação regular só foi retomada em 9 de junho, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
A pasta também chegou a anunciar que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. A mudança, contudo, não foi colocada em prática até agora.
Na prática, ela inviabilizava uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também atrapalharia a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo.
Com a mudança, as “novas mortes” seriam menores. Na prática, a medida também evita notícias negativas sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
De acordo com boletim do Ministério da Saúde, 12 de maio é o dia em que mais mortes por covid ocorreram de fato. Foram 1.098 óbitos, de acordo com boletim divulgado nesta quarta.
O mês com mais mortes por data de ocorrência é maio (30.199), seguido por junho (24.059) e julho (16.443), com dados até 27 de julho.
No final de junho, o ministério anunciou que a notificação de casos do novo coronavírus poderia ser feita pelo médico apenas por critérios clínicos, sem esperar o resultado laboratorial. Na prática, a mudança pode ser um incentivo a menos para aplicação de testes RT-PCR (moleculares), forma mais precisa de diagnóstico.
De acordo com boletim do ministério publicado nesta quarta, foram distribuídos 5.015.252 testes RT-PCR. Após essa etapa, também há entraves até o resultado do exame. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. Na prática, o exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
De acordo com o Ministério da Saúde, 2.678.927 exames moleculares haviam sido processados até 25 de julho, sendo 1.548.507 na rede pública e 1.130.420 na rede privada. A taxa de positividade era de 37,7% nos laboratórios públicos e de 28,5% nos particulares.
De acordo com painel da pasta, outros 8.004.080 testes rápidos sorológicos foram entregues. Segundo o boletim, 4.398.066 testes sorológicos (rápidos e laboratoriais) foram feitos e a positividade foi de 32,2%. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento. Os sorológicos, se há anticorpos no organismo.