Essa dissonância entre a realidade do país e o discurso dominante tem raízes políticas
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Desde 2020, o Brasil vem surpreendendo com resultados econômicos que contradizem as previsões recorrentes de recessão ou estagnação. Trimestre após trimestre, os números do Produto Interno Bruto (PIB) desmentem o pessimismo dominante e revelam uma economia que resiste mais do que se admite.
Naquele ano pandêmico, projetava-se um colapso de –6,5%. A queda, embora grave, foi de –3,3%. De lá pra cá, o padrão se repete: projeções acanhadas e resultados acima do esperado. Isso não significa que estejamos num ciclo de bonança — os problemas estruturais seguem —, mas evidencia erros recorrentes nas leituras econômicas.
No primeiro trimestre de 2025, mais uma surpresa: crescimento acima das expectativas, puxado por agropecuária, construção civil e consumo das famílias. Mesmo assim, o Banco Central mantém os juros nas alturas, alegando riscos inflacionários que não se confirmam.
Essa dissonância entre a realidade do país e o discurso dominante tem raízes políticas. A economia vivida pelo povo, especialmente pelas famílias pobres e de renda média que sustentam o consumo cotidiano, pouco aparece nas modelagens dos grandes centros. A agropecuária, motor recorrente do crescimento, também recebe atenção marginal.
O maior ruído, no entanto, vem do sistema de comunicação. Os oráculos da mídia brasileira — e, sobretudo, seus donos — deixaram de ser empresários da imprensa para se tornarem operadores do mercado financeiro. Donos de fundos, bancos e gestoras, usam jornais, TVs, rádios e portais como instrumentos de especulação e propaganda do rentismo.
Essa máquina narrativa fabrica o medo: da inflação, da falência fiscal, do “populismo” — especialmente quando o Estado atua em favor dos mais pobres. Quando o PIB cresce, os elogios são contidos; quando há retração, o alarme soa alto. Se há melhora, o crédito vai para o “ajuste fiscal”; se há problema, culpa-se o gasto público. Uma lógica cínica, funcional ao capital financeiro.
Não se trata de romantizar dados positivos, mas de recusar a ideia de que o Brasil está condenado ao fracasso. Parte da crise de expectativas é construída por interesses que se alimentam do pessimismo.
Mais do que números, a economia também é feita de percepções. E, num país em que as boas notícias são abafadas por uma imprensa a serviço do mercado, talvez seja hora de reverter o foco. Não para idealizar, mas para recuperar a capacidade de enxergar o país com mais precisão — e menos tutela financeira.