Por Marcella Fernandes, compartilhado de Huffpost Brasil –
Na comparação das duas últimas semanas analisadas, óbitos causados pelo novo coronavírus aumentaram 40% no Norte.
O Brasil interrompeu uma sequência de queda nos novos óbitos registrados por semana causados pelo novo coronavírus. Na semana encerrada em 19 de setembro foram contabilizados 5.322 novas vítimas, acima dos 5.007 da semana anterior.
Os dados divulgados nesta quarta-feira (23) pelo Ministério da Saúde mostram interrupção de uma sequência de 3 quedas consecutivas na comparação entre semanas.
Movimento semelhante ocorreu com os diagnósticos. O número de novos casos por semana foi 212.553, acima dos 192.687 registrados na semana anterior e revertendo a queda.
O boletim aponta diferenças na transmissão do vírus nas 5 regiões do País. No Norte, as mortes aumentaram 40% e os casos, 4%. No Sul, os óbitos subiram 6% e os diagnósticos, 12%. No Sudeste, foi registrado aumento de 8% nos casos e de 10% nos óbitos. No Nordeste, houve crescimento de 11% nos diagnósticos e queda de 5% nas mortes. No Centro-Oeste, a alta foi de 16% nos casos e foi registrado recuo de 2% nos óbitos.
Questionado em coletiva de imprensa sobre motivos da alta, o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros, afirmou que alguns indicadores apontam queda ao analisar a tendência de duas semanas e não apenas a semana mais recente e disse que as realidades são diversas no País.
Ainda segundo Medeiros, houve finalização da investigação de óbitos antigos que não estavam contabilizados e melhora na testagem. “Estamos testando muito mais do que testávamos no passado”, afirmou. O secretário não admitiu uma piora na situação sanitária.
A interiorização da epidemia persiste. O total de municípios que notificaram casos do novo coronavírus é de 5.549 (99,6%). Desse montante, 4.421 (79%) registraram óbitos causados pelo patógeno.
Segundo dados do Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), com registros compilados até 18h, os óbitos por covid-19 somam 138.977 e os casos confirmados são 4.624.885.
Ranking mundial
Na comparação internacional, o Brasil é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, atrás apenas dos Estados Unidos.
Quanto ao número de casos, está em terceiro lugar, atrás da Índia e dos norte-americanos. Há diferenças entre as taxas de testagem dos 3 países, o que evidencia a subnotificação.
No território norte-americano, foram registrados mais de 6,9 milhões de casos e a média de testes diários é de 139 por 100 mil habitantes, segundo a universidade. No Brasil, a média é 37 por 100 mil habitantes. Na Índia, são 5,6 milhões de diagnósticos e a média é de 1 por 100 mil.
Ao considerar a população de cada nação, o Brasil ocupa a 7ª posição quanto aos óbitos de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). São 645,81 mortes por milhão de habitantes. No ranking de diagnósticos, está em 11º lugar, com 21.443,74 por milhão de habitantes.
O novo coronavírus já causou mais de 972 mil mortes no mundo. São cerca de 31,7 milhões de casos confirmados, de acordo com dados da Universidade de Hopkins, atualizados nesta quarta.
Quem morre por covid-19 no Brasil?
Quanto aos dados de SRAG (síndrome respiratória aguda grave), em 2020 foram notificadas 730.425 hospitalizações, sendo 388.901 (53,2%) identificadas como covid-19, 249.556 (28,3%) causadas por agente não especificado, 84.474 (11,6%) em investigação e o restante provocada por outros agentes patológicos.
Quanto aos óbitos por SRAG, são 191.495 contabilizados no ano, sendo 133.902 (69,9%) por covid-19, 54.101 (28,3%) causados por agente não especificado, 2.433 (1,3%) em investigação e o restante provocada por outros agentes patológicos.
A respeito de como esses diagnósticos de covid foram feitos, de 376.548 casos confirmados, 360.645 (95,8%) tiveram confirmação laboratorial. O restante foi diagnosticado por outro tipo de exame ou por critério clínico. Quanto a 131.614 óbitos contabilizados, 123.746 (94%) foram confirmados em laboratório e o restante por outro exame ou por critério clínico.
O perfil das vítimas de covid-19 é 73,3% acima de 60 anos, 58% do sexo masculino e 63,9% com menos um fator de risco, como cardiopatia ou diabetes.
Quanto à raça/cor, 36,8% das mortes foram de pessoas identificadas como pardas, seguidas por brancas (32,2%), pretas (5,5%), amarelas (1,1%) e indígenas (0,4%). Segundo o boletim, 24% dos registros não tinham essa informação.
Taxa de transmissão
A taxa de transmissão calculada pelo Imperial College London continuou a oscilar. De acordo com o relatório mais recente, com dados até 20 de setembro, o Brasil voltou ao patamar de 1 na taxa de transmissão (Rt).
É necessário estar abaixo desse nível para frear a epidemia. Na semana anterior, o indicador estava em 0,90. Isso significa que 100 pessoas contaminadas contagiavam outras 90 que, por sua vez, passavam a doença para outras 88.
A taxa é nacional e devido à dimensão continental do Brasil, muitos estados e municípios ainda registram crescimento mais acelerado da transmissão.
O Imperial College calcula a taxa com base no número de mortes reportadas, mas há um intervalo entre o momento do óbito e o registro oficial que pode chegar a até 30 dias. Estados populosos como Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul também têm indícios de subnotificação.
Tanto a subnotificação quanto o atraso passam a impressão de que a crise sanitária está numa situação melhor do que a realidade, ainda que se use indicadores como médias móveis.
Subnotificação da pandemia
Há um atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. Na prática, o exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
No final de junho, o ministério anunciou que a notificação de casos do novo coronavírus poderia ser feita pelo médico apenas por critérios clínicos, sem esperar o resultado laboratorial. Na prática, a mudança pode ser um incentivo a menos para aplicação de testes RT-PCR (moleculares), forma mais precisa de diagnóstico.
De acordo com painel Ministério da Saúde, foram distribuídos 7.006.316 testes RT-PCR. Após essa etapa, também há entraves até o resultado do exame. Segundo o boletim da pasta, 6.421.441 exames moleculares haviam sido processados até 19 de setembro. A taxa de positividade era de 31,9% nos laboratórios públicos e de 42,7% nos particulares. A OMS recomenda que essa taxa esteja em torno de 5%.
De acordo com painel da pasta, 8.004.800 testes rápidos sorológicos foram entregues. Segundo o boletim, 8.312.203 testes sorológicos (rápidos e laboratoriais) foram feitos. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento. Os sorológicos, se há anticorpos no organismo.