Brasil: O Condomínio do Caos na base do Vale Tudo

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Por René Ruschel, jornalista, para o Bem Blogado

No Brasil de Jair Messias, o presidente do Banco Central, órgão responsável pela fiscalização e legislação do sistema financeiro verde-amarelo, resolveu ligar para um banqueiro amigo antes de adotar medidas regulatórias de política monetária e crédito.




Imaginemos que o setor antidrogas da Policia Federal estabelecesse uma nova política de combate ao tráfico no Brasil. Uma das medidas seria reformular e fortalecer o controle das fronteiras. Antes que a operação pudesse ser efetivada, o diretor-geral da PF decidisse consultar o traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores especialistas no assunto, atualmente detido no Presídio Federal de Catanduvas, interior do Paraná. O argumento seria que, trata-se de um contato que visa “monitorar temas prudenciais que possam ameaçar a estabilidade do sistema” de segurança da região. Em qualquer país medianamente sério, o policial seria demitido da função. Quiçá, expulso da corporação.

Voltando ao caso do banqueiro, o fiscal de plantão queria saber qual o “lower bound” – ou seja, o piso da taxa de juros a ser praticado pelos bancos. Uma atitude indefensável. Perguntar ao banqueiro sobre o índice da taxa de juros é como se o policial questionasse Fernandinho Beira-Mar qual o calibre das armas que à PF deveria usar na Operação.

Seguramente o traficante, como fez o banqueiro, iria sugerir medidas e ações que atendessem seus interesses e da classe que representa.

Toda essa mixórdia não é nenhuma obra de ficção. O áudio da conversa entre o banqueiro e um grupo de investidores vazou no último fim de semana. Nele, o banqueiro afirma que deu “conselhos” ao presidente do BC. Revelou que também aconselhou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, PP-AL, até ministros do STF por ocasião do julgamento sobre a autonomia do Banco Central para “educar (…) ensinar” os magistrados, afinal “o cara não é obrigado a nascer sabendo”.

Opina sobre as eleições de 2022 e alerta que “mesmo com a vitória de Lula o BC ainda teria dois anos de Roberto Campos”. Como quisesse dizer que dá tempo para passar o resto da boiada. A plateia ri e acha graça, como sinal de aprovação. 

O cenário apenas mostra aquilo que o Brasil sabe há mais de 500 anos. A elite predadora, desde os tempos da Casa Grande, do coronelismo, até aportar na Faria Lima da Paulicéia, abarrota seus cofres impondo miséria e sacrifício à tigrada. Somos um dos países onde se paga a maior taxa de juros do mercado.

Não é à toa que, em plena pandemia, na pior crise econômica, social e sanitária da história de Pindorama, onde mais de 19 milhões de brasileiros passam fome, o sistema financeiro obteve no primeiro semestre deste ano um lucro liquido de R$ 62 bilhões – com aumento de 53% em relação ao ano passado.

Este condomínio do caos, implantado em 2016 quando o projeto “Ponte para o Futuro”, gestado no governo de Michel Temer e sinalizou para os descaminhos da economia, foi ratificado em 2018 com a eleição do ex-capitão. Foi quando o conluio político se transformou no patrimonialismo explícito, onde o público e o privado se tornam a mesma coisa.

Agora, não existem mais limites para a rapinagem. A desfaçatez com que as negociatas são tratadas se dá à luz do dia. Como diria o síndico Tim Maia, vale tudo. Basta chegar ao balcão e negociar.

Assista: Áudio revela poder do banqueiro André Esteves e sua relação com Arthur Lira e Roberto Campos Neto

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