Brasil, o país da infâmia sem vergonha

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Por Enio Squeff – 

O que se passa no Brasil, tirante Bolsonaro, Coxinhas, crimes supostos ou verdadeiros que só se resolvem de um lado, além de um Torquemada como Sérgio Moro (afinal, não é por nada que elegemos como defensores da pátria, da moral, da justiça ou do patriotismo, pessoas que no fundo deveriam nos envergonhar). O que se passa aqui, repito, é algo inédito na sua quantidade e, digamos, na sua qualidade: refiro-me à covardia. Estamos há anos elencando heróis como dedos duros. Entre os criminosos comuns, assassinos declarados, homens sem classificação, nesse mundo do mal por mais canalha que seja, ninguém respeita um alcaguete. Ou melhor, ninguém o perdoa. Aqui eles são consagrados pelos editoriais dos jornais como heróis da pátria. E são, sim, abençoados pelo bom homem da rua, o classe média, que perdeu o emprego, perdeu quase tudo da sua dignidade, se é que ela existiu um dia. Mas que não hesita em prestar seu preito aos covardes. Não se estranhe, se num futuro que se aproxima, qualquer deputado apresentar, sob a forma de projeto de lei, uma proposta de descriminalização histórica, para eleger como verdadeiro herói da nacionalidade, não um Tiradentes, mas um Joaquim Silvério dos Reis. Se temos um presidente que diz ter em seu livro de cabeceira, as memória de um homem que torturou, matou – e que sempre se valeu de sua farda para proclamar suas excelências preferidas, como o pau de arara e o estupro – falo do major Carlos Brilhante Ustra evidentemente,– não haveria nada a se chocar se esses maiorais fossem eleitos para o nosso panteão.
E que então no lugar de Dom Pedro I, ou Pedro Álvares Cabral, ou o Marechal Rondon, erguêssemos um grande obelisco. Com Sérgio Paranhos Fleury no cume; ou Hitler, ou Mussolini (Stalin não, e não porque foi um genocida, mas porque foi comunista).
Glória aos homens sem caráter, sem dignidade – aos traíras, aos covardes que delatam e inventam leis em nome da Ordem e Progresso. Glória, em suma, não aos homens do mal, mas aos pulhas. Aos que vendem o país. E então, de repente, no lugar do soldado haveria um monumento ao “Canalha Desconhecido”. Seria digno do nosso momento histórico. E daí, – isso é que é dolorosamente verdadeiro – comporíamos uma imensa quase infinita galeria só de covardes; e haveria um nunca acabar de efígies de homens que hoje vestem fardas, togas, belos ternos. Seria o museu da infâmia; ou quem sabe se chamasse “Brasil, o país dos infames”; ou dos covardes. E a nossa história recente o justificaria. E o mundo inteiro diria : por fim, um país que se reconhece a si mesmo. E que se comemora na torpeza de seus homens.

Imagem: Y no hay remedio
1810 – 1814. Aguafuerte, Bruñidor, Buril, Punta seca sobre papel avitelado, ahuesado, 142 x 168 mm
GOYA Y LUCIENTES, FRANCISCO




Copyright de la imagen ©Museo Nacional del Prado

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