Brasil, onde o cativo é o primeiro a louvar o senhor

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Por Ulisses Capozzoli, jornalista, Facebook

Bom dia, indignados/inconformados, de quem sempre dependeu a evolução da espécie humana. Conformados/abestalhados, não movem a bunda e ─ por cada um deles, que somam muitos milhões ─ ainda não teríamos concebido a roda nem domesticado o fogo.




Bom dia também aos que se sentem derrotados, os que pensam que basta uma batalha para se ganhar um confronto histórico: a exploração de uns homens-mulheres por outros homens-mulheres. E aqui é o caso de dizer que a exploração das mulheres, garotas, meninas, jovens e idosas pelo efeito do tempo, desde sempre foi maior que a experimentada por homens. As mulheres, no corpo de quem chega ao mundo cada um de nós. São as mais sugadas entre os humanos.

No Brasil, se estivéssemos nos referindo às potencialidades/necessidades, deveríamos estar discutindo o fim das chamadas Forças Armadas. Arcaicas, caras, pouco eficientes e corporativas, por uma estrutura menor e mais eficiente. Submetidas à democracia grega, em que militares eram subordinados a civis,

Conformados/abestalhados e beneficiários dessa situação indesejável, arrepiam os cabelos com a interpretação segura de que este seria um atentado à soberania nacional. Soberania submetida a uma humilhação crescente por parte de uma figura grotesca levada ao poder por um Sebastianismo que herdamos de Portugal. E com isso não se culpa portugueses, nesse momento em condições muito melhores.

Nossa questão é a mentalidade atrasada, de um pais que nunca, como um cachorro molhado, se chacoalhou com vigor para eliminar a herança colonialista. Em que a escravidão aparece como destaque.

Euclides da Cunha, em seu “livro vingador”, “Os Sertões”, há quase 120 anos se decepcionou com a República e, por extensão, com militares que a implantaram aqui por um golpe. Dos muitos que se seguiram nesta terra historicamente sem lei. O que explica a barbárie de Canudos e a indignação de Euclides exposta em seu clássico.

Militares deveriam ter noção elementar de logística, como parte dos deveres de ofício. Mas a discussão dos jornais de hoje, sobre substituir por gás o diesel que move a frota de caminhões, é uma falha grotesca e primária de um governo militar, supostamente probo, na lógica dos idiotas de plantão.

Foram quem acabou com as estradas de ferro, o fluxo principal de riquezas, mesmo entre países pobres deste mundo que muitos enxergam como plano. Acenaram com as quatro rodas e assim assinaram a sentença pesada envolvendo transporte de mercadorias e pessoas num país de dimensões continentais.

E o engodo continua, com as doses de sempre do Sebastianismo sugerindo que, de alguma forma, logo, tudo será muito melhor. Que providenciem cadeiras, bancos e sofás, porque a espera será inútil.

Da ordem perversa a que estamos submetidos o único a se esperar é a propagação do caos, sob a forma de multidões, que um dia tiveram um lar, e agora vivem nas ruas.

Com as prisões abarrotadas, a criminalidade diversificada e o nepotismo e a manipulação agindo com plena desenvoltura.

Quem abrir os jornais de hoje, além da proposta de substituir diesel por gás na frota de caminhões que tomam as precárias estradas nacionais, lerá também sobre a chance de cada pessoa retirar meros R$ 500,00 na conta de Fundo de Garantia (FGTS) de que eventualmente dispuser.

 

Generosidade do governo? Nada disso, estratégia precária e limitadíssima de um governo medíocre para evitar um crescimento (PIB) negativo ao final deste ano. A tentativa de alimentar o consumo com magros R$ 500,00?
Cômico, não fosse trágico.

No caso do FGTS há pressão da indústria da construção para evitar essa retirada. Esses recursos financiam a construção de moradias, para quem ainda tem a sorte de acesso a elas. Se os recursos saem, a fonte seca e não haverá trabalho para outros milhões de trabalhadores quase sempre com pouca especialização.

 

Buchas de canhão de um segmento altamente especulativo que molda as cidades brasileiras ao desenho que melhor lhes convém. Mas, com desemprego na construção civil, a renda cairá ainda mais, restringindo o consumo e afetando inevitavelmente o PIB.

A clássica história do cachorro correndo atrás do rabo, sem nunca conseguir captura-lo por uma questão óbvia até mesmo aos espíritos mais insensatos.

Não há razão para otimismo. Ao menos a curtíssimo prazo. Daí para a frente, a própria dinâmica das forças sociais se encarregará de implodir a farsa, sem que isso signifique, necessariamente, ampliação da consciência.
Historicamente, nada de novo.

 

O Brasil é pendular. Vai e vem num movimento repetitivo e previsível.  Assegurado, tradicionalmente, por raízes escravistas. Em que o cativo é o primeiro a louvar o senhor.

 

Imagem Jean Baptiste Debret (1768-1848).

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