Compartilhado de Money Times –
A pandemia de coronavírus jogou o Brasil numa tripla crise (sanitária, econômica e política), e a resposta pode ser uma espécie de “impeachment branco” do presidente Jair Bolsonaro.
A avaliação é da consultoria MCM, para a qual, os recentes movimentos de lideranças políticas e do Judiciário reforçam essa possibilidade.
“O esforço conjunto do parlamento e dos governadores para organizar o curto prazo colocaria Bolsonaro numa espécie de quarentena política ou impeachment branco, um passo adiante em relação ao parlamentarismo branco”, afirma a MCM, em análise enviada a clientes nesta quinta-feira (26).
Para a consultoria, esse cenário seria concretizado, após três movimentos. O primeiro seria governadores e prefeitos assumirem o protagonismo de combater a pandemia, como já se vê em várias partes do país.
Basta lembrar a carta divulgada ontem, na qual 26 governadores afirmam que seguirão as orientações da OMS e não as de Bolsonaro.
Chave do cofre
O segundo seria o Congresso assumir, efetivamente, o controle dos recursos públicos, por meio da aprovação do tal orçamento paralelo ou de guerra, com o objetivo de acelerar as medidas necessárias para combater o coronavírus e seus impactos econômicos e sociais negativos.
O último passo seria o alinhamento do STF (Supremo Tribunal Federal), que ficaria de guarda para “barrar eventuais decisões de efeito desorganizador tomadas pelo presidente”.
É verdade que, muito provavelmente, Bolsonaro não assistiria calado às manobras para isolá-lo do poder real. Mas, até agora, suas manifestações públicas, como o ataque a governadores e a minimização da gravidade da pandemia, estão criando o ambiente ideal para isso.
“O comportamento bélico de Bolsonaro está levado governadores e a parcela majoritária do Congresso, com o possível respaldo do STF, a agir para limitar o raio de ação do presidente e, consequentemente, do governo federal”, afirma a MCM.
Um exemplo, de acordo com a consultoria, é a participação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na reunião dos 27 governadores, realizada ontem. Segundo a análise, o episódio “atesta a união entre o centro político do Congresso e os governadores estaduais em contraposição ao presidente Bolsonaro”.
Dia seguinte
A capacidade do “impeachment branco” sobreviver ao fim da pandemia, contudo, é muito mais incerta. Para a MCM, o “acerto de contas” entre Bolsonaro e as forças políticas que o estariam escanteando dependeria do tamanho do estrago da pandemia.
Ele será a medida do capital político do presidente, do Congresso, governadores e prefeitos, no pós-crise. A solução do impasse passaria, também, pela posição dos militares da ativa, um ator que voltou a ter “relevância política”, conforme a MCM.
Ironicamente, segundo o relatório, o presidente pode ser o maior beneficiado pelas medidas tomadas à sua revelia para conter o contágio.
Isto porque, se funcionarem rapidamente, minimizarão as mortes e os impactos econômicos – e darão argumentos para Bolsonaro afirmar que tinha razão, ao dizer que a crise foi exagerada e que não passava de uma “gripezinha”.