Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora –
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lança plataforma para mapear iniciativas de restauração e reflorestamento no Brasil
Com uma meta de restaurar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas até 2030, o Brasil ainda está engatinhando: o Observatório da Restauração e Reflorestamento, plataforma lançada nesta terça (09/03) mapeou a existência de somente cerca de 79 mil hectares sendo restaurados ativamente com árvores nativas – o que representa 0,65% do compromisso assumido pelo país no Acordo de Paris.
O novo observatório é uma iniciativa da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – rede que reúne representantes do agronegócio, de entidades ambientais, dos principais bancos brasileiros e da academia. “O objetivo desse mapeamento é permitir definir com mais facilidade onde são os melhores lugares para fazer novas restaurações e identificar as iniciativas que devem ser estimuladas e multiplicadas”, explicou Marcelo Matsumoto, especialista em sistema de informação geográfica do WRI-Brasil e coordenador Força Tarefa de Monitoramento da Restauração e Reflorestamento, criada pela Coalizão.
A maioria dos projetos de restauração mapeados até o momento pelo observatório está na Mata Atlântica (93%), sendo 38,7% desses no Estado de São Paulo. Na escala de municípios, porém, o que mais está restaurando é o Rio de Janeiro (3,3 mil hectares). Por ter sido é o bioma mais desmatado no País – restam somente cerca de 12% de remanescentes da floresta original -, a Mata Atlântica é também onde mais ocorreram termos de ajustamento de conduta, promovidos pelo Ministério Público, para cumprimento do Código Florestal.
O Observatório da Restauração e Reflorestamento pretende – além mostrar as iniciativas em andamento para estimular novos projetos e parcerias – mostrar onde estão os principais gargalos e vazios no País. “Foi exatamente a consciência de que existem muitas iniciativas de restauração no Brasil, mas elas são pequenas e, muitas vezes, isoladas. Isso acaba impedindo que esses projetos ganhem escala”, disse Matsumoto no evento virtual de lançamento da plataforma no canal da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura no YouTube.
A plataforma reúne dados de restauração, reflorestamento e regeneração natural no Brasil. Milena Ribeiro, especialista em Geoprocessamento da TNC (The Nature Conservation) Brasil e uma das líderes da força-tarefa, a plataforma começou a ser alimentada com informações de outras bases regionais, como a feita pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, hoje o mais organizado grupo com este foco. Os organizadores, porém, acreditam que a maioria dos projetos deve estar na Amazônia. “Com a plataforma no ar, nós conseguiremos reunir mais rapidamente dados sobre iniciativas não apenas na Amazônia, mas em outros pontos mais isolados do país”, disse Milena, que apresentou as funcionalidades da plataforma.
A pesquisadora da TVC explicou ainda que o passo imediato é focar na alimentação o banco de dados dos projetos a partir de plataformas regionais. “Nós temos um plataforma robusta capaz de receber, centralizar e processar dados e, a partir dela, poderemos desenvolver novos recursos, pensando inclusive em outros indicadores das metas NDC como indicadores econômicos e sociais, estimativas de sequestro de sequestro de carbono”, acrescentou Milena Ribeiro.
A meta de 12 milhões de hectares restaurados foi proposta pelo governo brasileiro, em 2015, como parte da contribuição oferecida pelo país no Acordo de Paris. Além da preservação das florestas, o replantio de áreas florestais devastadas é considerado uma das maneiras mais baratas e fáceis de retirar carbono da atmosfera.
Na plataforma, foram mapeadas também as áreas que passam por um processo de regeneração natural: por exemplo, uma pastagem abandonada que voltou a ser floresta; e também os projetos de reflorestamento para fins comerciais. De acordo com Marcelo Matsumoto, considerar a intencionalidade na regeneração e trabalhar para estabelecer incentivos é determinante para que ela possa ser considerada nos cumprimentos das metas e compromissos do Brasil nas esferas internacionais, como no Acordo de Paris.
Foram 10 milhões de hectares mapeados de regeneração natural, dados baseados em mapeamentos por satélite feitos pelo MapBiomas e a Plataforma FloreSer, do Imazon. Somente com o dado do satélite não dá para saber neste momento se é um processo natural espontâneo, sem intervenção humana, ou um local que foi cercado propositadamente para deixar a floresta voltar. “Mas, diferentemente da restauração ativa, não temos segurança de que será mantida no longo prazo”, lembrou Matsumoto. Os projetos de reflorestamento para fins comerciais – plantio de árvores, nativas ou exóticos, em monocultura ou policultura, com objetivos econômicos – representam 9 milhões de hectares.