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“É como se estivéssemos anestesiados frente aos números”
(Agência Brasil)
O site Our World in Data, que acompanha a pandemia do novo coronavírus em tempo real, aponta que o Brasil está na faixa das mil mortes diárias há seis semanas. Os Estados Unidos permaneceram nessa condição por oito semana. Nenhum outro país ficou nesse nível por tanto tempo. O Brasil se aproxima das 100 mil mortes e ultrapassou os 2,5 milhões de casos confirmados.
Diante disso, “é como se estivéssemos anestesiados frente ao grande número de mortes”, avalia o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Mackenzie, ao Estadão desta quinta-feira 30/VII.
“Depois de um período de crise, todos clamam pela volta do normal e, até como sentido de autodefesa, a pessoa para de olhar o número de mortes. Cansadas, tristes, chegam à conclusão de que a vida tem de seguir, daí o termo novo normal. Estamos vivendo a normalidade dentro da anormalidade”, completa.
Ao jornal, o filósofo Roberto Romano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou que a pandemia reforça a “tremenda ambivalência” humana. “Temos ao mesmo tempo gestos magnânimos, simpatias e heroísmo, mas também momentos de pequenez, egoísmo, autossatisfação com a maldade, o prazer em fazer o mal. Essa duplicidade depende muito das condições de comunicação, visualidade e proximidade do fato. Se um parente próximo estiver no Boeing que caiu, a reação é de consternação, tristeza e até de revolta. Quando o fato não está no campo visual, de percepção imediata, essa reação se torna cada vez mais tênue”.
No caso da pandemia, explica ele, a notícia das mil mortes é apenas um número. “Você não vê aquilo acontecendo, como os destroços de um Boeing, das Torres Gêmeas”, completa o filósofo.