Equipe de transição do governo Lula detecta que Bolsonaro não paga órgãos como ONU, OMC e OIT, entre outros, e país fica sem voz no mundo. “Quebrou o Estado brasileiro”
Por Eduardo Maretti, da RBA
Na foto: Esther Dweck, Mercadante e Antonio Corrêa de Lacerda, em entrevista coletiva em Brasília13
São Paulo – Em entrevista coletiva do Grupo de Trabalho (GT) do Planejamento, da equipe de transição do governo Luiz Inácio Lula da Silva, os economistas Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia (Confecon), e Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falaram das propostas em torno da recriação do Ministério do Planejamento, um dos que Jair Bolsonaro extinguiu. Eles também discorreram sobre o enorme rombo e os graves problemas deixados pelo atual governo. A conversa com os jornalistas aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.
Junto ao coordenador dos grupos técnicos do governo de transição, Aloizio Mercadante, Lacerda comentou a grave situação do Brasil hoje, que se transformou em um devedor de organismos internacionais. “Nos deparamos na transição (com o fato de) que estamos inadimplentes junto a órgãos internacionais muito relevantes”, afirmou.
“A dívida junto a esses órgãos – o que envolve ONU, OMC, OIT e outros – chega a 5 bilhões de reais”, informou Lacerda. Ele classificou a situação como “muito grave”, dada a importância da participação do Brasil nesses organismos internacionais para uma nova visão de Estado que se pretende colocar em prática. A principal consequência é que o país perde a voz junto a essas instituições. “Perdemos a interlocução e direito a voto”, disse ainda o economista e professor.
“Um pária que deve 5 bilhões”
“O governo Bolsonaro quebrou o Estado brasileiro”, disse Mercadante. “A atual política externa transformou o Brasil num pária, mas não só um pária como um pária que deve 5 bilhões para organismos multilaterais. Isso significa que o Brasil será excluído desses fóruns, não tem direito ao concerto das nações”, continuou. Segundo Mercadante, não há previsão orçamentária para a questão.
Esther Dweck afirmou que “algumas coisas precisam ser feitas imediatamente”. Ela citou, entre outros temas, a estratégia de desenvolvimento de longo prazo em linha com as diretrizes do novo governo, assim como a discussão de uma reforma administrativa de acordo com o ideário do governo eleito. Isso diante da “destruição do orçamento público”.
Estado a favor da população
Os integrantes da equipe de transição do governo Lula afirmaram que há consenso sobre a necessidade de “uma reforma do Estado para o Estado funcionar a favor da população”, segundo Dweck. “O país precisa de uma reforma administrativa e temos que entrar nesse debate e apresentar uma visão em relação a esse processo”, acrescentou Mercadante. De acordo com ele, é preciso dialogar com os servidores, que estão sem reajuste há sete anos. “Isso não é qualquer coisa”, disse ainda o coordenador.
Esther Dweck também pontuou que um dos setores que serão reforçados com verbas, segundo os planos, se relaciona ao chamado governo digital. O orçamento geral da TI está “paralisado”, afirmou. Segundo ela, é preciso aumentar em mais de R$ 60 milhões as verbas para essa área. Além de estar perdendo profissionais para o mercado, os servidores de TI não tem sido repostos, disse.