Por Ulisses Capozzoli, jornalista –
Apostando no “mais do mesmo” como se não estivéssemos vivendo um período de transformação, com a detecção por parte dos eleitores da grande fraude que foi a escolha do “mito”, Bruno Covas pensa que tem nas mãos o mapa do tesouro. Está enganado. Momentos de transformação como este emergem do reconhecimento de que nada é o que parecia.
Memórias tamponadas retornam à superfície. Covas é do mesmo time de Aécio, o dependente químico por trás do movimento que está na base da crise político-econômica atual, pelo inconformismo de menininho rico de ter perdido as eleições que acreditava suas, em 2014.
O mesmo time em que jogou durante anos Geraldo Alckmin, e as ferragens oxidadas que deixou em inúmeras obras públicas não concluídas, entre eles o anel viário norte da cidade de São Paulo, sob acusação de corrupção e desmandos.
Do mesmo time de José Serra, com acusações de desvio de dinheiro depositados no exterior, do mesmíssimo time de Aloysio Nunes, valentão que, em parceria com Aécio, disse que tornariam o “país ingovernável”. Conseguiram e agora estão na moita, convenientemente disfarçados de fruta.
Se a população da cidade de São Paulo engolir todo esse engodo, merecerá, com todas as letras mais quatro anos de farsa, enquanto a megalópole afunda num mar de barracos por parques e avenidas: moradores sem teto, sem rumo, excluídos de uma ordem elementar, a desordem que nasce e cresce a partir de uma exclusão criminosa.
Temos a chance de ouro, neste exato momento, de abrir espaço para o novo, a perspectiva de devolver à cidade de São Paulo e, por extensão e efeito produzido por uma megalópole, ao país inteiro de uma ordem comprometida com o humanismo e a humanidade, a justiça elementar, os direitos básicos.
Sem esses preceitos não há sociedade, não há cooperação, substituída pelo caos e todo tipo de violência.
Bruno Covas, na ânsia de ser reeleito, com o único e suposto mérito de ser neto do avô, faz insinuações reptícias, típicas do que está aí e a quem ele está de muitas maneiras ligado, ainda que tente negar.
O contorcionista João Doria, de olho na cadeira presidencial, e mesmo ao indesejável atual ocupante, com selfies que não deixam mentir, ainda que tenha as justificativas mais desconjuntadas para isso.
Covas, com a fisionomia estranha que ganha a cada dia, poderia refletir por um momento o que tem pela frente, o que, na verdade, inclui cada um de nós que respiramos neste momento. Mas prefere acusações dissimuladoras, quase infantis de um outro menino riquinho, netinho de um avozinho famoso, como seu sósia mineiro. A sociedade patriarcal nacional, escravista, antiga como a pedra lascada.
Covas tenta retirar de Guilherme Boulos o mérito que deveria reconhecer, se fosse um adversário honrado, o que não é. E Boulos tem como vice uma mulher de valor, grandeza, coragem e história, Luiza Erundina que, aos 85 anos, tem o vigor e a determinação de outras com a metade de sua idade. Que já perderam ou nunca tiveram a força que ela tem.
Boulos não tem experiência de governar? Então todos nascem sabendo? Para governar como ele faz? Então melhor que não tenha mesmo. Porque Boulos tem Erundina, que já governou a cidade em um passado recente, com o oxigênio liberado pelo fim de uma ditadura com mais de duas décadas de duração.
Boulos tem a seu lado alguém de que Covas nem remotamente dispõe. Quem é seu vice-governador? Um sujeito pouco conhecido (o que momentaneamente é conveniente para os dois). Ricardo Nunes, o vice de Covas, é das fileiras do MDB, reacionário da bancada religiosa da Câmara Municipal, adversário do direito (absolutamente legítimo e que chega com enorme atraso) das mulheres, LGBTQIA+ e suspeito de ligação com a chamada máfia das creches.
Nunes foi emplacado na chapa de Covas (que faz malabarismo para parecer que não está ligado ao governador) por imposição dele, Doria, de olho no xadrez de 2022 para conseguir montar um jogo combinado com o MDB e o odioso “centrão” para 2022.
Ricardo Nunes, o vice de Covas, integra a “bancada da Bíblia”, essa excrescência que se apossou recentemente do país com o único e exclusivo interesse de assegurar privilégios próprios.
Nunes se opôs à iniciativa indispensável de educação sexual (entre outras necessidades a de evitar a gravidez de uma multidão de adolescentes) e igualdade de gênero nas escolas, respaldando a campanha alienada e alienante do projeto Escola sem Partido em 2015.
Tem mais duas coisas, graves e desagradáveis de se referir: Nunes, o vice de Covas, é inimigo de projetos educacionais para enfrentar a violência de gênero, e ele mesmo é acusado de violência doméstica, acompanhado de ameaças, injúria e não pagamento de pensão.
Em resumo: um gentleman, um estadista em dobradinha com o neto do avô. O neto do avô, a essência do currículo de Covas e o autorretrato da sociedade senhorial, a escravidão a que ainda nos mantemos acorrentados.