Bye Bye Brasil

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Cacá Diegues

Por Ricardo Soares, compartilhado de Construir Resistência




Hoje toda a bolha vai menciona-lo.

Paciência , sou mais um.

Dizer que foi uma perda grande num país de tanta obviedade é muito pouco.

Como tem rezado o senso comum nesse dia de lembranças o Cacá foi mais que um cineasta.

Foi de certa forma um pensador que através do cinema ganhou relevância nacional precocemente, antes dos 40, quando já tinha realizado dois dos seus melhores filmes.

O sempre lembrado “Bye Bye Brasil” e o sempre esquecido “Chuvas de Verão” que tem a mais bela cena de amor entre idosos interpretados por Jofre Soares e Miriam Pires, finadíssimos.

Justamente a reação de Cacá às péssimas críticas que o “Chuvas” recebeu se transformou , talvez, no maior debate cultural do fim dos anos 70 quando ele cunhou o termo “patrulhas ideológicas” numa entrevista concedida a também finada Pola Vartuck no Estadão.

A polêmica que se seguiu mobilizou os meios intelectuais brasileiros e rendeu o livro Patrulhas Ideológicas, de Carlos Alberto M. Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda (Brasiliense, 1980).

No livro havia também uma nova entrevista de Cacá, na qual ele definia o tal “modus operandi” das tais patrulhas:

“O que existe é um sistema de pressão, abstrato, um sistema de cobrança. É uma tentativa de codificar toda manifestação cultural brasileira. Tudo o que escapa a esta codificação será necessariamente patrulhado”.

Impressionante como a definição segue ainda hoje precisa e as atuais patrulhas seguem firmes e fortes rotulando o que é ou não correto como vimos por esses dias com a polêmica envolvendo a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl .
Esse debate ancestral incendiou meu coração juvenil – e de muitos outros colegas – nos corredores da faculdade de jornalismo Cásper Libero e desde então o respeito que eu já tinha pelo Cacá só cresceu apesar dos filmes ruins que ele também fez e a vassalagem diante daquela cristaleira de naftalinas literárias que é a Academia Brasileira de Letras.

Evidente que isso que digo também é patrulha como afirmar que é muito triste ouvir no dia da morte dele um tributo radiofônico prestado pelo Merdal, supremo presidente da ABL e nulidade intelectual .

Mas, esse é outro capítulo que não merece ser destrinchado aqui nessa modesta homenagem ao Cacá Diegues que eu espero que esteja em paz .

Ricardo Soares é jornalista, escritor e crítico literário

Nota do editor Simão Zygband: Entre as enxurradas de homenagens à Cacá Diegues,  o Construir Resistência escolheu o texto de Ricardo Soares por vários motivos pois, além da brilhante abordagem, faz a menção ao filme Chuvas de Verão, obra de primeira grandeza menosprezada do diretor, que não apenas traz a mravilhosa cena de sexo da terceira idade atrás da cortina, protagonizada por Jofre Soares e Mirian Pires, mas pelo conjunto da obra que conta a história de um velho palhaço suburbano pedófilo. Imperdível, de fato.

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