Cabeça fria para enfrentar sete meses no olho do furacão

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Quando passar mais um estranho carnaval que não é carnaval, desembocaremos em março. Aí faltarão sete meses para a eleição de outubro. Dia desses por curiosidade dei uma pesquisada para saber como estava a situação de Lula no Datafolha em fevereiro de 2002 e fevereiro de 2006, anos em que Lula saiu vitorioso das eleições.

Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog




Em 2002, Lula aparecia numericamente acima de Roseana Sarney, mas em situação de empate técnico: 28% a 26%. Quatro anos depois, os tucanos ainda mantinham acesa a disputa entre Alckmin e Serra pela vaga de candidato do PSDB à presidência. No cenário com Serra, empate: 34% Serra, 33% Lula. Na simulação contra Alckmin, que acabaria vencendo a queda de braço interna e se lançando candidato, Lula liderava com certa folga por 36% a 20%.

Relembrar esses números é importante para observarmos como o panorama das pesquisas de 2022 é bem mais confortável para Lula, que ultrapassa os 40% em todos os levantamentos, chegando a obter 48% na última do Datafolha, tido como o instituto mais confiável, embora não impermeável a falhas.

Este ano temos a novidade de uma gama enorme de institutos (muitos contratados por agentes do mercado financeiro e usando a metodologia mambembe da consulta telefônica) divulgando resultados praticamente todos  os dias.

Contudo, a ótima performance atual de Lula nas pesquisas está longe de significar certeza de vitória, como apregoam os militantes mais entusiasmados. A possibilidade de Lula liquidar a fatura já no primeiro turno está mais para “sonho de uma noite de verão” do que para a realidade, em que pese todos os esforços devam ser feitos para que a eleição não vá para o segundo turno.

Mas não é fácil. Nem no auge da popularidade de seus governos, o PT venceu eleição presidencial no primeiro turno. Pelo simples motivo de que existe direita e extrema-direita no país. Como desprezar a força do conservadorismo fortemente assentada no mercado financeiro, agronegócio, fundamentalismo religioso, nas milícias, nas polícias, nos militares e grupos de mídia?

Ciente de todos esses obstáculos, ainda agravados por um governo neofascista, encabeçado por um presidente que atenta diuturnamente contra as instituições e o sistema democrático, o PT faz a coisa certa ao negociar com o centro e apostar na construção da federação com outras forças do campo progressista.

Quem sintetizou com perfeição a centralidade dessa tática foi José Dirceu em recente artigo publicado no Poder 360: “Quem impõe a nós alianças com o centro é a correlação de forças e o adversário. Não depende de nós.”

É preciso ter sangue frio e cabeça no lugar. Tenho confiança na vitória, mas prevejo uma eleição disputadíssima, com subida real de Bolsonaro nas pesquisas, manipulação de pesquisas contra Lula, toda sorte de jogo sujo e antidemocrático por parte do bolsonarismo, além da tradicional ação em ordem unida dos grupos de mídia contra o PT.

Dividiria em dois blocos a ofensiva desesperada que vem por aí para tentar impedir a eleição de Lula e as armas que provavelmente serão utilizadas pelos adversários:

Bolsonaro/fascismo – Uso sem limites da máquina administrativa; campanha eleitoral antecipada à margem da lei;  taxar Lula de ladrão dia sim outro também, ignorando todas as sentenças favoráveis a Lula que deixaram claro a suspeição de Moro e os processos fraudulentos contra o ex-presidente; remake da fakeada de Juiz de Fora; recurso à violência durante a campanha; calúnias, injúrias e difamações através da disseminação de fake news em escala jamais vista; aumento significativo dos ataques ao sistema eleitoral e à confiabilidade das urnas eletrônicas.

Terceira via/grupos de mídia – Insistência na tese amplamente desmentida pelos fatos de que o “PT quebrou economicamente o Brasil”; tentativa de colar em Lula e no PT a pecha da irresponsabilidade fiscal; aposta ainda maior na comparação descabida entre os “radicalismos” do PT e de Bolsonaro; exploração  da falácia de que houve “corrupção sistêmica” nos governos do PT; massificação da narrativa de que Lula não foi absolvido, mas sim teve seus processos anulados.

Mas venceremos.

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