Por Fernando Morais, Nocaute –
Alguém pode ser submetido a situação humilhante mesmo que seja presumidamente inocente?
Pelo que li e vi até agora, tudo indica que os ex-governadores do Rio Sérgio Cabral e Anthony Garotinho cometeram crimes escabrosos. Mas até que sejam julgados, condenados e que as respectivas sentenças transitem em julgado, os dois são inocentes. Exibir publicamente cenas de ambos em situação humilhante (Cabral de cabeça raspada e roupa de presidiário e Garotinho esperneando em uma ambulância), como a polícia vem fazendo, não é Justiça, é justiçamento.
Sou insuspeito para dizer isto. Meu primeiro choque com o que viria a ser o PSDB deu-se em 1983, quando presidi a Assembleia de São Paulo. Em nome do legislativo paulista, condenei com dureza a ação da Polícia Militar que invadira a casa da mãe do ex-governador Paulo Maluf, sem mandado judicial, em busca de provas de crimes eleitorais que Maluf teria cometido. Eu era do PMDB, o mesmo partido do governador Montoro e de seu secretario de Segurança, Miguel Reale Jr., responsável pela invasão ilegal. Por causa disso, muito tucano ilustre jamais me dirigiu a palavra. Mas continuei defendendo que nós não podíamos tratar os tiranos com os mesmos métodos que eles haviam utilizado contra nós na ditadura militar.
Aliás, não é demais lembrar que a ditadura militar também raspou as cabeleiras de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Não me lembro de ter visto fotos deles nessa situação.