Cadê Rodrigo Maia? Aceita presidir a Casa da Mãe Joana?

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Por Marcelo Auler em seu Blog

Charge do Clayton (Charge Online)




No desgoverno atual, uma crise interna de um insignificante partido político – sim, pois não passa de uma agremiação sem qualquer programa político, que amontoou gente despreparada, com votos conquistados não com propostas de construção de alguma coisa, mas apenas de destruir o que estava pronto, retrocedendo em tudo – paralisa o país, apesar da sua insignificância, repita-se.

Há semanas a chamada grande imprensa foca apenas nas brigas internas do tal do PSL, com xingamentos, traições, gravações ilegais, falsificações de assinatura e tudo aquilo que jamais se imaginaria presenciar e assistir em uma casa legislativa. Apequenaram o que já era pequeno, mostrando que o fundo do poço ainda não tinha chegado.

Em um momento como este, com tudo o que estamos vivendo, não há como não lembrar do alerta dado por Ulisses Guimarães, lá pelos anos 90, como narrou certa feita Luís Costa Pinto no artigo “Ulysses não esperava 1 Congresso melhor, pois o próximo poderia ser pior”:

Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior… – respondeu o homem que empenhara a vida pela reconstrução democrática e pela devolução do Estado de Direito à sociedade brasileira”.

O velho sábio e experiente político, antevendo o que nos esperava – mas talvez jamais imaginando que a Câmara que um dia presidiu fosse invadida por um bando tão despreparados – ainda completou:

Temos algumas poucas cabeças boas aqui. É necessário juntá-las, onde quer que estejam, e fazê-las trabalhar num rumo só: para a frente. Sempre“.

Se ainda existem boas cabeças entre os 513 deputados federais e 81 senadores, está mais do que na hora de seguir a recomendação dada pelo Senhor Diretas: juntá-las, para tentar salvar o que restou do Parlamento

Não é possível que essas boas cabeças assistam, impassivelmente, 56 deputados federais disputarem a liderança de um partido, apresentando incontáveis listas de assinaturas em que nomes são colocados à revelia dos parlamentares ou até mesmo ocorram possíveis fraudes.

Como descreveu nesta terça-feira (22/10) O Globo, na reportagem “A crise em reprise”, deputados – eleitos para legislarem – não consegue se definir na hora de escolher um líder entre 55 colegas. O que dirá então na hora de traçarem a letra de uma lei? Consta da reportagem:

“A primeira lista de ontem foi apresentada por Vitor Hugo, do grupo pró-Eduardo, com 29 assinaturas, das quais 28 receberam autenticação (ops!), o que levou o deputado ao posto de líder do partido (…) Diante da primeira lista pró-Eduardo, o grupo pró-Waldir apresentou nova relação, endossada por 28 deputados. Em seguida, os apoiadores de Eduardo protocolaram o terceiro documento do dia para mantê-lo na liderança. As duas últimas listas não foram ainda referendadas pela Mesa”.

A primeira grande dúvida surge do que foi literalmente narrado: como pode entre 29 assinaturas de parlamentares, uma não ter sido autenticada? Foi falsificada? Colocada à revelia?

Desperta então uma segunda curiosidade: não autenticaram e tudo ficou como está? Não houve apuração do que ocorreu? Nenhum jornalista foi lá conferir?

Também não há a preocupação de se questionar o político que uma hora assina uma lista para horas depois colocar seu autógrafo em outra? Como podem mudar de posição tão facilmente? Descobriram alguma coisa contra quem apoiavam antes? Desconhecia o colega que tinha indicado antes para líder?

É óbvio que na atual situação todos os que tomam conhecimento de mudanças tão bruscas ficam a imaginar o que não deviam. Surge então um questionamento inevitável: tais mudanças estariam sido influenciadas por algum argumento e$cu$$o? Quais? Por parte de quem?

Certamente que se existe uma norma/regulamento, seja lá o que for, que garanta a escolha de uma liderança pelo número de apoios que ele apresentar à mesa diretora da Casa Legislativa, essa norma/regulamento não terá sido escrita para que os líderes sejam entronizados e depostos em questão de dias. Menos ainda, de horas. Ou minutos. Tal como está ocorrendo.

Ao que parece, o bando de parlamentares do PSL está simplesmente abusando da regra e com isto desmoralizando a Câmara dos Deputados, sem que os grandes líderes – aqueles que um dia Ulisses Guimarães chamou de “algumas poucas cabeças boas aqui” – nada façam para impor o respeito que o Legislativo deveria ter. Ou, ao menos, aparentar.

De se perguntar, onde anda o deputado Rodrigo Maia, que preside a Casa? Não enxerga o que se passa junto à mesa que preside? Concorda com tal balbúrdia?

Ameaças do deputado Daniel Silveira: bravata ou conhece algo que todos deveriam saber? (Ilustração copiada de O Globo)

E o corregedor da Câmara, Paulo Bengtson (PTB/PA), como fica alheio a tudo isso – coloca e tira assinaturas – se uma de suas principais missões é justamente “promover a manutenção do decoro, da ordem e da disciplina no âmbito da Câmara dos Deputados”, como define o próprio site da Casa?

Não está rolando nenhuma falta de decoro?

Não é preciso dar um pouco de moralidade às normas da Casa?

Não bastasse esse vai e volta de listas, de acusações, xingamentos, surge agora um destes novos políticos, daqueles eleitos com as promessas de agir diferente, que simplesmente ameaça “foder o parlamento”.

Sim, exatamente isso que admite ter dito o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) em mensagens endereçadas a seus colegas, diante da possibilidade de ser punido por ter feito gravação escondida da reunião em que participou como “infiltrado”.

Como se não bastasse, depois falou em “bagunçar o coreto de todo mundo, sacudir o Brasil”.

Foi em um encontro no qual o então líder partidário, delegado Waldir, tratou o presidente da República – até então seu aliado e do mesmo partido – como um “vagabundo”, alguém que poderia ser “implodido”.

Verdade que depois Silveira tentou remendar o que disse, sem desmentir nada: “Aquilo ali é subjetivo. Tipo assim, pô, vou foder todo mundo. O que tiver pra falar eu vou falar se surgir algum fato novo contra o presidente, é isso que eu quis dizer. Não cabe cassação de mandato”, remendou em O Globo.

Pelo jeito, o deputado valentão – o mesmo que ganhou notoriedade rasgando a placa de rua com o nome de Marielle Franco e recentemente invadiu o tradicional Colégio Pedro II, no Rio – não consegue manter em público as bravatas que fala entre quatro paredes.

Independentemente do local onde falou, a ameaça de “foder” o parlamento ocorreu.

Algo que não pode ser visto com naturalidade. Falando sério ou não, faltou com o decoro.

Novamente é de se questionar: quem imporá respeito ao Legislativo? Cadê o presidente da Casa? Rodrigo Maia já aceita ser presidente da Casa da Mãe Joana? Ou imporá o respeito que o Parlamento parece, ainda, merecer?

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