O trono do Circo Brasileiro de Futebol frita mais um poderoso chefão, o quarto na sucessão de escândalos. A escalada da vergonha: Ricardo Teixeira, Zé da Medalha, Del Nero e Rogério Caboclo

Não se pode negar: a cadeira presidencial do Circo Brasileiro de Futebol proporciona ótimos fluidos aos magnânimos ocupantes. Donos de uma honestidade acima de qualquer suspeita, sempre dispostos a fazer o melhor pela pátria das chuteiras furadas, eles chegam a sacrificar o convívio com a família. De corpo, alma e bolso, dedicam-se diuturnamente ao bem-estar do esporte bretão, especializando-se na saudável matemática do 2+2= 5.




Cria de Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange, que se apoderou não apenas da casa maldita do ludopédio nacional mas também da mamãe Fifa (Federação Internacional de Falcatruas Associadas), Ricardo Teixeira assumiu em 16 de janeiro de 1989. Casado com a filha do poderoso chefão, Teixeira reinou (e mamou nas tetas da bola) até 12 de março de 2012. Renunciou ao mandato sob artilharia pesada de acusações por corrupção.

Assumiu o gentleman José Maria Marin, o Zé da Medalha, simpático apelido que ganhou após ser flagrado surrupiando a medalha do jovem goleiro corintiano Matheus, campeão da Copa São Paulo de 2012.

Três anos depois, mais precisamente em 27 de maio de 2015, Zé da Medalha foi preso em Zurique na operação Fifagate. Em dezembro, desembarcou nos Estados Unidos com duas pulseiras de prata nos punhos. Curtiu quase cinco anos de xilindró até ser liberado para retornar ao Brasil.

A linha sucessória indicou Marco Polo del Nero. Que sentou no trono em 16 de abril de 2015. Denunciado por corrupção, recebeu o cartão vermelho da mamãe Fifa no final de 2017. E, como Marin, foi banido do futebol.

Bafejado pelos bons ventos que imperam no esporte bretão brasileiro, eis que surge no horizonte da safadeza o até então obscuro Rogério Caboclo. Assumiu em 2019. E manteve a gloriosa escalada da vergonha, com acusação de assédio moral e sexual a uma funcionária. Uma denúncia com detalhes repugnantes, asquerosos.

Tentou, sem sucesso, suborná-la com R$ 12 milhões para evitar a ‘cadeira elétrica’ que fritou os samaritanos Teixeira, Zé da Medalha e Del Nero. Por enquanto, está afastado por 30 dias. O vice-presidente mais velho, Antônio Carlos Nunes, o coronel Nunes, 82 anos, homem de confiança da ditadura militar, assumirá o trono.

Gato mestre. Brasil, um país governado por milícias digitais.

Era só fumaça… O esperado boicote dos jogadores da amarelinha desbotada à famigerada Copa América subiu no telhado. Oficialmente, eles somente anunciarão a decisão após a partida contra o Paraguai, nesta terça, pelas Eliminatórias do Mundial do Catar. Devem lançar um manifesto com críticas à organização do torneio por causa da pandemia de Covid-19, mas entrarão em campo. Ou seja, aceitarão goela abaixo o torneio imposto pelo Capitão Corona. O time estreará diante da Venezuela no próximo fim de semana, no Estádio Mané Garrincha. A solidariedade aos 500 mil mortos foi apenas uma ilusão. Brasil acima de tudo…

Darth Vader. Aos negacionistas de plantão, abjetos que perambulam por esgotos da imbecilidade: futebol e política se misturam, sim!

Túnel do tempo. Ao gado que muge no cercadinho do Planalto e nas redes antissociais: apenas a mídia negacionista aplaudiu a realização dos estaduais, do Brasileirão e da Libertadores. A maior parte da imprensa sempre se mostrou contra o futebol em tempos de pandemia… e a favor da Ciência.

Linha direta. O Capitão Corona ficaria extremamente feliz se o bolsominion Renato Gaúcho substituísse o ‘comunista’ Tite na casamata da amarelinha desbotada. Mas Tite deve permanecer.

Abominável. Apesar das inúmeras evidências contra Rogério Caboclo, ainda há cartola que coloca a mão no fogo pelo Napoleão do Circo Brasileiro de Futebol. Evandro Carvalho, o chefão da Federação Pernambucana, por exemplo, acredita em armação para denegrir Caboclo. “Acho ridículo, ainda mais se tratando de Rogério. Na quarta-feira, vou conversar com ele. Isso tudo [acusação de assédio sexual] é conversa mole, besteira, balela. Qualquer estudante de Direito derruba isso em meia hora.” Por qué no te callas, ignóbil cartola?

Rosamundo, o pensador. Ame o próximo porque o anterior você já sabe que não deu certo.

Pé de obra. Que Bolsa, que bitcoins, que nada! Feliz daqueles que apostam num par de chuteiras privilegiado pelos deuses do futebol. Em julho de 2019, o Flamengo investiu 10 milhões de euros (R$ 61,4 mi na cotação atual) no talento do meio-campista Gérson. Dois anos se passaram, e o Urubu negociou o jogador ao Olympique de Marselha por 25 milhões de euros (R$ 153,5 mi), parcelados em quatro anos. A transferência poderá chegar a 30 milhões de euros (R$ 184,2 mi) se Gérson alcançar algumas metas. Em uma futura venda, o Rubro-Negro beliscará 20% da transação. Trocando em miúdos: um lucro de R$ 92 milhões (R$ 3,8 milhões por mês).

Meia-volta, volver. A vida pelo avesso no Brasil acima de tudo: capitão dá ordem unida a generais.

Bico quadrado. A largada dos paulistas no Brasileirão merece aplausos: conquistaram nada menos que 14 pontos em 30 possíveis ‒ quatro vitórias, dois empates e quatro pauladas. Dos cinco representantes, o soberano campeão paulista Tricolor é o único que ainda não venceu. Na Série B, todas as glórias para a Raposa: dois jogos, duas derrotas e o brilho da lanterna.

Tá na rede. Heresia no gramado: Dragão devora São Jorge e São Paulo.

Xenofobia. ‘Professor’ de qualidades reprováveis até para comandar jardim de infância, Dunga saiu da toca dos sete anões para alfinetar o treinador Miguel Ángel Ramírez, após a derrota do Saci colorado para o Fortaleza por 5 a 1. Com uma grosseria cheirando a xenofobia, Dunga abriu a caixa de ferramentas e vociferou: “Precisa respeitar o país que abriu as portas. Com o Abel, Edenílson e Patrick jogavam muito, Yuri era artilheiro e Cuesta o melhor zagueiro do Brasil. Não adianta falar em Ferrari se não sabe dirigir a Ferrari”. Lamentável.

Dial. Até a equipe de esportes foi engolida pelo negacionismo da Jovem Pan.

Da série ‘Ô loco, meu!’. O pugilista Floyd Mayweather, 44 anos, acredita que reforçou a poupança em US$ 100 milhões (R$ 504,8 milhões) com a luta contra o youtuber Logan Paul, 26. Antes mesmo de pisar no ringue para o dantesco espetáculo, o boxeador já havia beliscado US$ 30 milhões (R$ 151,4 milhões). Profissionalmente, Mayweather venceu os 50 combates que disputou. Devido às regras de exibição, não houve ganhador entre Mayweather e Logan depois de oito assaltos.

O povo quer saber. Quando a camisa amarela voltará ao verdadeiro torcedor, deixará de ser sequestrada por cretinos que amam a ditadura?

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