Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Sejamos claros: o destino do Brasil será jogado no ano que vem, mas é o pescoço de Lula que estará em exposição. E é justo que Lula zele por ele. Pelo que já tem ensaiado, o ex-presidente não fará a campanha dos sonhos da ala mais à esquerda do PT e de potenciais aliados, leia-se aí principalmente o PSOL.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está voltando de um exitoso tour pela Europa. Lula restituiu para os brasileiros tão envergonhados nos últimos tempos o orgulho de serem reconhecidos como atores respeitados no mundo civilizado das nações democráticas.
Lula é, para desgosto de seus inimigos, um estadista e é reconhecido como tal por seus interlocutores. Estamos hoje na condição de párias, graças a Bolsonaro, mas a treva é momentânea. A rápida viagem de Lula mostrou que no Exterior sabem de nossa importância.
É mais do que possível recuperar a relevância e, é cada vez mais evidente, que Lula é nosso embaixador simpático ao mundo.
Na volta ao Brasil, Lula deve deslanchar, ao lado das conversas para a montagem dos fundamentais palanques estaduais para 2022, a definição do que serão os eixos de seu discurso na tentativa de volta ao Palácio do Planalto. Parece simples mas não é.
A busca de justiça social, por exemplo, é marca registrada de Lula e do PT. Mas como, com quais políticas, se avançará aí? A tarefa, no conjunto, é imensa. O Brasil terá que ser reconstruído. O tecido social está mais esgarçado do que nunca, os valores civilizatórios mínimos vilipendiados etc. Não é coisa simples.
Indubitavelmente, se vencer a eleição, Lula encontrará um País muito pior na comparação com 2003, quando assumiu pela primeira vez.
Há, não se pode negar o óbvio, uma já nem tão discreta disputa interna no PT sobre os rumos que se devam imprimir à campanha de Lula. É legítimo. Porém, é preciso se localizar o que está em jogo.
Antes, uma rápida corrida pelo retrospecto de Lula. O ex-presidente sempre se cercou de gente competente. Ouve muito, procura entender o que não conhece e negocia à exaustão. Mas não despreza a intuição, advinda da convivência com o povo e, fundamentalmente, tem a coragem de decidir, arbitrando eventuais divergências entre os mais próximos.
Tudo isso para dizer que é bobagem querer impor a Lula, mesmo no PT, os caminhos a seguir em 2022.
Lula tem a experiência do Poder e da injustiça da prisão. Sabe que não pode errar, primeiro na disputa dos votos e, depois, na Presidência da República.
Sejamos claros: o destino do Brasil será jogado no ano que vem, mas é o pescoço de Lula que estará em exposição. E é justo que Lula zele por ele.
Pelo que já tem ensaiado, o ex-presidente não fará a campanha dos sonhos da ala mais à esquerda do PT e de potenciais aliados, leia-se aí principalmente o PSOL.
Lula não é um revolucionário no sentido clássico, nunca foi, na verdade. É tremendamente revolucionário na prática. Sabe que dar comida e cidadania a quem nunca teve é tarefa primária no Brasil.
Já fez isso e entrou para a História como o mais progressista dos governantes que o País já teve.
Portanto, que não se façam bravatas com o pescoço alheio. Lula, aos 75 anos, se dispõe a encarar mais uma jornada muito difícil e extenuante.
Poderia estar recolhido em sua vida privada, gozando merecidamente de descanso depois de cumprir uma trajetória pessoal e política sem comparação.
Que se respeitem suas decisões e opções nos próximos meses. Ele não é infalível, mas o retrospecto autoriza a confiança. Acima de tudo, não é hora de ensinar o padre a rezar.