Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado –
A arrancada da chapa lulista, Haddad e Manu, foi sensacional e só um desastre não a levará ao segundo turno contra o candidato fascista. Não é hora de achar que a fatura está liquidada, pelo contrário, é o momento de tentar aumentar mais a votação do campo progressista para chegar melhor ao segundo turno, mas é inegável que estamos participando de um momento único na história da política brasileira.
A adesão até o momento do eleitorado mais pobre ao indicado pelo ex-presidente é um estupendo tapa na face dos que, bobos, achavam que o condenando sem provas e o encarcerando estariam liquidando o PT. Mais ainda, deixou atônita a turma do colunismo político amestrado dos grandes veículos. Primeiro diziam que não haveria transferência de votos. Depois, que Haddad não teria tempo e nem personalidade para herdar o apoio de Lula.
Ficaram com cara de paisagem e agora, com o jurista Merval Pereira (Organizações Globo) à frente, entram no terreno da infâmia ao igualar desiguais, Bolsonaro e PT, na suposta falta de compromisso com a Democracia.
O caminho está bem pavimentado, mas não livre de surpresas. No terreno da sacanagem previsível, é óbvio que haverá a tentativa de envolver a chapa popular em algum escândalo na boca da urna. O ensaio de uma das possíveis trapaças já começou com a anedótica e ao mesmo tempo criminosa tentativa de ligar a combativa Manu com o maluco que desferiu a facada em Bolsonaro, em Juiz de Fora.
A, e é o termo a seguir o apropriado mesmo, palhaçada tem roteiro sequencial. Pouco antes de 7 de outubro, o rapaz da Tramontina vai conceder uma entrevista. Sim, Lula não pode falar à mídia e um esfaqueador pode. Mas a quem falará o sujeito? Ao panfleto que atende por Veja. Não é absurdo supor que haverá a reedição da capa “Eles sabiam de tudo” que tentou virar a eleição para Aécio em 2014, não? O Brasil e suas presepadas institucionais perderam a originalidade.
É no campo político, porém, que o campo popular precisa ter mais juízo que festa. Lula é o maior, o único, aliás, líder popular do Brasil? Só um demente responderia não. Lula venceria a disputa no primeiro turno se não tivesse sido vítima de uma armação velhaca, canalha? Sem dúvida. Mas ocorre que não é o ex-presidente que estará na urna e Haddad, apesar de seus méritos inegáveis e fidelidade a Lula, não é Lula.
O que isso quer dizer? Só com a força, mesmo avassaladora do petismo e lulismo, não será possível deter a onda fascista infelizmente em curso no País. A candidatura da chapa progressista tem que ser sábia e ampliar, ser a representante do campo democrático contra a barbárie.
E teremos dificuldade para essa união, que deveria ser automática contra o primitivo. Alguns, ou muitos, petistas têm se comportado como crianças nas redes sociais no embate com ciristas. Provocações, certa arrogância e uma grita dispensável pela hegemonia nas esquerdas, já garantida pelas pesquisas e capilaridade do partido, estão destruindo pontes para o segundo turno. Causam ressentimento e podem fazer com que uma bolha do cirismo, lamentavelmente contaminada por um violento antipetismo mais próprio da direita, lave as mãos no segundo turno. Não descartem nada do ser humano.
Enfim, o Ibope divulgado no início da noite de terça-feira confirma que, com um pé e dois terços do outro no segundo turno, Haddad passará a ser o alvo único de adversários e mídia. É hora de cicatrizar feridas em nosso campo, combater a soberba, dar toda força às manifestações femininas contra o fascismo no sábado e continuar a busca pelo voto. Será difícil, mas é sim possível derrotar o fascismo e os golpistas.
Existe luz!