“Não existe um presidente do Banco Central desenvolver um agregador de pesquisas para a campanha do Bolsonaro”, disse o deputado, criando constrangimento ao presidente bolsonarista do BC
Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum
Autor de uma denúncia em que acusa Roberto Campos Neto de usar seu cargo na presidência do Banco Central para fazer fortuna com a taxa Selic em fundos de investimento exclusivos, Lindbergh Farias (PT-RJ) expôs o conluio do bolsonarista com agentes do sistema financeiro para especular com a taxa Selic.
“Eu citei aqui, na última audiência, um artigo do Nilson Teixeira, um economista muito sério, economista chefe do Credit Suisse, e ele questionava justamente 250 reuniões com instituições privadas, com bancos, feitas por diretores do Banco Central no ano de 2022. Vai além, disse ele que o Jerome Powell, presidente do Fed [Banco Central dos EUA], em 2022 teve cinco encontros. Nenhum com a banca privada, com o mercado, todos com universidades e instituições. A Christine Lagarde [presidenta do BC Europeu) a mesma coisa. Então, há uma preocupação formal, na teoria e na prática, com essa relação com o mercado financeiro”, iniciou o petista.
Em seguida, Lindbergh citou o áudio vazado pelo Brasil 247 em 2021 em que o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, revela sua total influência sobre Campos Neto, que ligou para o banqueiro para perguntar sobre a taxa de juros.
“Foi gravada numa reunião, ele [Esteves] diz: o presidente do Banco Central me ligou ‘pô, André, o que está achando disso. Onde você acha que a taxa de juros mais baixa…’. Ai ele descreve o diálogo”, lembrou o deputado.
Lindbergh também causou embaraço ao expor a relação espúria do presidente do Banco Central “autônomo” com Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
“Não existe um presidente do Banco Central desenvolver um agregador de pesquisas para a campanha do Bolsonaro. Não existe votar com a camisa da seleção brasileira, fazer um convescote com Tarcísio [Gomes de Freitas, governador de São Paulo] e depois sair falando que me chamou para ser ministro. Isso é muito grave, abala toda credibilidade do Banco Central”.
O deputado ainda ponderou a condução da política econômica, especialmente durante o governo Bolsonaro, quando o BC deixou de cumprir a meta da inflação em 2021 e 2022.
Lindbergh então encerrou com uma pesquisa incômoda e não respondida por Campos Neto no último encontro entre os dois.
“Nesses fundos exclusivos dos quais o senhor é proprietário existem títulos remunerados pela taxa Selic ou IPCA?, concluiu.