Em entrevista no programa Roda Viva, presidente do Banco Central insiste na atual política monetária lesiva à economia popular e criticada por Lula. Partidos e entidades fazem ato público hoje em frente ao banco
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Publicado 14/02/2023 – 07h47Nadja Kouchi/DivulgaçãoO presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na TV Cultura21
São Paulo ‒ Em entrevista nesta segunda-feira (13) ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, disse que não vai alterar a meta de inflação para o próximo biênio, apesar das críticas nos últimos dias. A declaração sinaliza a manutenção da atual taxa básica de juros da economia, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano – uma taxa real de 8% acima da inflação. “Existem, obviamente, aprimoramentos (do sistema de metas) a se fazer. Não há só uma proposta, existem mais de uma. Mas, em nenhum momento, entendemos que o movimento de aprimoramento do sistema de metas seja um movimento que vise ganhar flexibilidade ou atuar de forma diferente”, disse Campos Neto.
Ele manteve sua visão, contestada por economistas e pela equipe econômica do governo, de que o Brasil apresenta um quadro de alto risco inflacionário. E reafirmou que o pacote fiscal preparado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação”.
Na ata da mais recente reunião do Copom, em 1º de fevereiro, a instituição justificou a manutenção da alta taxa de juros reais alegando “incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva”.
Campos Neto foi indicado por Jair Bolsonaro à presidência do BC em fevereiro de 2019, após decreto presidencial que instituiu a “independência” da autarquia federal. O principal argumento usado para a mudança foi blindar o órgão responsável pela política monetária do país de eventuais interferências políticas. Pelo decreto, que determina mandato de quatro anos ao presidente do BC, ele fica no cargo até o final de 2024.
Reações
A taxa básica de juros está no centro de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao BC. Diversas vezes Lula já declarou não haver “justificativa nenhuma” para a Selic em 13,75%. Além disso, afirmou não ser possível que o país volte a crescer com a taxa nesse nível e que a condução de Campos Neto à frente da política monetária está travando o desenvolvimento do país. “Nós não temos inflação de demanda. É só isso. Que esse cidadão tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país. Ele tem muita responsabilidade.”
Nesta segunda (13), o Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução que orienta as bancadas da Câmara e do Senado a convocarem Campos Neto para explicar a taxa de juros.
“Na medida em que a política do Banco Central mantenha sinais contraditórios com o projeto de desenvolvimento que venceu as eleições, que necessita da queda dos juros, nossos parlamentares vão ainda mais buscar informações, explicações, cobrar e fiscalizar, inclusive com possível convite ou convocação“, disse a deputada federal Maria do Rosário (RS).
Protesto no Banco Central
Entidades sindicais, movimentos populares e partidos políticos realizam hoje, em frente à sede do Banco Central, no Rio de Janeiro, uma manifestação contra a taxa básica de juros (Selic) de 13,75% e a gestão de Campos Neto ‒ bolsonarista declarado. O protesto será a partir das 11h na avenida Presidente Vargas, 730.
O ato tem apoio de partidos políticos e representações populares, como CUT, CTB, CSP, CSB, Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Força Sindical, UGT, Levante, MST, PT, PCdoB, Psol, Sindicato dos Bancários do Rio, Federa-RJ (Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro), Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e Comitê dos Comitês Populares de Luta do Rio.
“Temos os juros mais altos do mundo. Com o controle do Banco Central, o sistema financeiro eleva a Selic e não controla a inflação. Manter taxa de juros, neste momento, vai encarecer o crédito, em um momento em que a população está sem renda, desaquecendo a economia brasileira”, destacou Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. “Não podemos aceitar que o Banco Central mantenha uma política econômica contrária aos interesses dos trabalhadores”.