Publicado em RBA –
Segundo Ângelo Cavalcante, professor de Economia na Universidade Estadual de Goiás, o Brasil é governado por um “oligopólio de canavieiros isento de impostos, que despeja agrotóxicos 24 horas por dia”
São Paulo – A cultura da cana, que se espalha por regiões fronteiriças dos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais, isenta de impostos, destruindo ecossistemas, sugando as águas do Aquífero Guarani, ganha contornos e já se configura como o 28º estado da federação.
A constatação é do professor Ângelo Cavalcante, professor de Economia na Universidade Estadual de Goiás e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“Esse estado é real, tem organização econômica, política, social, tem enorme bancada política, elege prefeitos, vereadores. E não é só a cana. É a cana e toda uma rede de serviços, máquinas, implementos, defensivos, 5 milhões de trabalhadores e agrotóxicos”, disse o pesquisador em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual da manhã desta segunda-feira (13).
“São agrotóxicos sendo despejados 24 horas por dia, porque é muita praga, é muito problema. A cana é o fordismo agrário, que disciplina não só o campo, mas cidades inteiras pelos seus investimentos. Uma atividade livre de impostos. Todos esses estados têm políticas de isenções de financiamento e de anistia”, disse.
Além disso, conforme destacou, o governo Temer “ainda está liberando esse pessoal do pagamento de multas”.
“São bilhões de reais em multas ambientais. Eles não vão pagar, mas alguém vai pagar. Eles acabaram com o Cerrado, como acabaram com a Mata Atlântica. Não é à toa que esse território está em cima do Aquífero Guarani: essa cultura da cana bebe essa água o tempo todo”, disse.
Cavalcante lembrou ainda os ruralistas não apoiaram o golpe parlamentar que destituiu Dilma Rousseff (PT) por acaso. “Eles deram o golpe para modificar a Constituição, para fazer o que estão fazendo, para ficar isentos dos crimes ambientais e continuar avançando. Eles mudaram a Constituição, o código ambiental, que garantia um mínimo de resguardo. Eles são do estado com a maior organicidade política do Brasil. E somos governados por um oligopólio de canavieiros. O Brasil deveria se chamar República Canavieira do Brasil.”