Por Ana Beatriz Rosa, publicado em Huffpost Brasil –
Sabe aquela metáfora das máscaras de oxigênio? Pois é. Precisamos estar inteiros antes de ajudar alguém – o que dirá mudar o mundo.
O ano pode ter começado complicado em outros lugares do mundo, mas, no Brasil, a sensação, para a grande maioria, é que 2019 já chegou pesado demais.
A sucessão de tragédias que ocuparam os noticiários ao longo destes 43 dias pode soar como um golpe no estômago.
O rompimento da barragem do Feijão em Brumadinho e suas centenas de vítimas fizeram com que cada brasileiro se sentisse um pouco atingido por aquele mar de lama. O que permanece é um misto de indignação e impotência diante das decisões políticas e econômicas que ditam o nosso desenvolvimento como nação.
As tempestades no Rio de Janeiro, que, novamente, destruíram casas e vidas, são o próprio reflexo da falência de um governo que, ano após ano, é incapaz de construir políticas públicas para evitar a dor de quem viu sua vida ir, literalmente, por água abaixo. Não fosse a solidariedade dos cariocas, que surgiram com algumas iniciativas de arrecadação de verba online para ajudar quem foi atingido, arriscaria dizer que nada seria feito (novamente).
O fogo interrompeu a vida e o sonho de 10 garotos no Ninho do Urubu no meio da noite. Não é preciso fazer um esforço enorme para imaginar que, no lugar daqueles meninos de 14 a 17 anos, poderia estar alguém conhecido. Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? É difícil mensurar o sentimento dos familiares que apostavam toda a energia no futuro da próxima geração de craques.
A perda de Ricardo Boechat, vítima de um acidente de helicóptero, foi o mais recente golpe, que deixou o País consternado. Inacreditável. Essa era a única interjeição possível após a confirmação da notícia. O Brasil perdeu uma de suas maiores referências no jornalismo. E perdemos todos um grande ser humano que fazia parte da rotina e da casa de milhares de ouvintes e telespectadores.
Diante desse cenário, não é loucura que o brasileiro defenda, já no início de fevereiro, o cancelamento de 2019.
Brumadinho
Tempestade no Rio
Brumadinho
Garotos do ninho
Ricardo BoechatE ainda estamos em fevereiro, alguém cancela 2019.
— garota ciúme (@GarotaCiume) 11 de fevereiro de 2019
Eu me considero uma pessoa razoavelmente cética. Mas a energia que parece estar dominando o País tem sido responsável por pequenos quase-ataques-de-ansiedade. Arrisco dizer que não sou a única.
Mas, se tem algo que carrego dos ensinamentos de uma família que sempre acreditou na fé-religião-zica-espiritualidade-benção-provação (insira aqui tudo mais o que você acreditar), é que é preciso separar o joio do trigo.
A fatalidade, o acaso, o incontrolável, o acidente, isso existe. Mas tem coisas que acontecem que são pura irresponsabilidade. Não dá para colocarmos tudo na conta do “além”. E cancelar 2019, definitivamente, não é uma opção.
Mais difícil, porém um pouco mais plausível, talvez seja o fato de que nós precisamos pensar em como construir a nossa resiliência, assim, como um conceito coletivo.
E o primeiro passo é cuidar de cada um de nós.
Sabe aquela metáfora das máscaras de oxigênio? Pois é. Precisamos estar inteiros antes de ajudar alguém – o que dirá mudar o mundo.
Veja 8 dicas de autocuidado se você está tendo dificuldade de lidar com as notícias recentes.
1. Respire fundo
A nossa respiração é uma das ferramentas mais simples e mais eficazes que temos para acalmar nosso sistema nervoso.
Quando alguém está preso a memórias de um trauma, sensações do passado podem se repetir no sistema nervoso como se estivessem acontecendo no momento presente. A respiração consciente pode ajudar a nos tirar dessa lembrança do passado e fazer com que a gente volte a focar no que realmente está acontecendo.
2. Reconheça suas emoções e se permita senti-las.
Nomear os sentimentos é a única maneira que eu encontrei para evitar que me perdesse entre eles. O processo de elaborar cada um dos incômodos e torna-los reais permite que eu tenha o poder de transformar essa sensação.
Está tudo bem se você estiver se sentido triste, angustiado ou descrente. Sinta isso e entenda o que te faz sair de cada um dos ciclos.
3. Dê um tempo das redes sociais
Desative as notificações, desinstale alguns aplicativos ou simplesmente deixe o seu celular em modo avião por algumas horas. Esse distanciamento vai fazer com que você pare de alimentar sentimentos ruins.
4. Empodere-se através de atitudes
Apenas observar os noticiários pode fazer com que a gente se sinta um espectador inútil. Isso nos trava.
Se as notícias do feed do Facebook estão te incomodando, experimente se engajar em alguma causa para experimentar o poder da transformação.
Não é preciso se tornar um militante aguerrido do dia para a noite. Vale a pena se reunir com um grupo de amigos, por exemplo, para compartilhar, reclamar e dividir um pouco do que você está sentindo e pensar em formas de sair da inércia em relação ao que te incomoda.
5. Ligue para a sua mãe
Isso pode soar um pouco estranho, mas tem momentos que só o contato com quem te conhece intimamente é capaz de acalmar. Diante de tantas perdas, é normal se sentir vulnerável.
6. Reconheça o potencial de uma mudança para melhor
Há luz no fim do túnel. O país pode estar extremamente polarizado nos debates, mas isso significa que as pessoas estão dialogando e pensando em como podem assumir seus papeis como cidadãos. Você não está indignado sozinho. E isso pode estimular um engajamento de mais pessoas para que haja alguma mudança na sociedade.
7. Não tenha medo de pedir ajuda
Está tudo bem se você não estiver conseguindo lidar com o turbilhão de emoções sozinhos. Peça ajuda a sua família e amigos. A coisa mais importante a ser feita é apoiar quem a gente ama. Não hesite, também, em procurar ajuda de um profissional.
8. Faça o que te traz felicidade
Acenda uma vela, tome um banho demorado, escute a sua música preferida, coma uma comida gostosa, saia para uma caminhada no parque, assista a vídeos fofos de filhotes na internet. Não importa. Nossos músculos e corações podem estar bastante tensionados nos últimos dias. E, nesses casos, rir é o melhor remédio.