Por Zeca Ferreira, cineasta, no Facebook
A resistência da candidatura fascista une a “tosqueira” aparente (bastante eficiente no seu princípio básico de anti-intelectualismo) a uma sofisticada máquina de negação da realidade.
O hipnotizador parece dizer: “não acreditem em nada, tudo faz parte de um grande plano para te manipular e te levar a votar mais uma vez nos políticos de sempre”.
Ao retumbante sucesso do movimento de mulheres por todo o país, por exemplo, seguiram-se manipulações grosseiras de imagens de atos pró-Bozo – imagens daquelas passeatas pro-impeachment ou da visita do papa eram viralizadas como sendo atos do candidato fascista. Farsas evidentes, que talvez não almejassem de fato enganar ninguém, mas tão somente diminuir o êxito evidente do dia negando de forma total a realidade.
Como a dizer: não existe a realidade, existem as tais narrativas, onde cada grupo mente a seu favor. Como se as próprias mentiras estivessem ali mais do que tudo para lembrar os eleitores de que, em uma eleição, tudo é mentira.
O processo eleitoral se desenrola então em um completo e consciente deserto ético, pelo qual somos também responsáveis a cada vez que aceitamos pequenos (às vezes grandes) desvios com aquele discurso de que “eleições são assim mesmo”. (E quem não achou graça nos primeiros tweets fake do Cabo Daciolo dando foras na Janaina Paschoal, ainda acreditando se tratar verdadeiramente do candidato maluquinho?)
Faz parte desse momento estranhíssimo a completa negação de responsabilidade sobre o que se propaga. Interessante perceber aí como desapareceu completamente a sinistra e milionária figura do marketeiro. Ninguém mais sabe quem é o marketeiro de ninguém. Talvez estejamos vendo o fim das campanhas eleitorais “de autor”.
A propósito, na esperança utópica de ver no processo eleitoral uma disputa de ideias e projetos para o país, confesso que sempre ansiei por isso. Mas o que estou vendo é ainda pior.