Por *Reimont Otoni, compartilhado da Revista Fórum –
A esquerda precisa compreender que não temos apenas um desafio democrático, mas um debate sobre os rumos da humanidade
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São chocantes as imagens, postadas na internet por moradores, da operação policial realizada na manhã desta sexta-feira (15) no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A tragédia da violência e da extrema pobreza, presente há décadas em nossa cidade, ganha contornos ainda mais graves em função da pandemia e da crise política que vivemos. Dia após dia, as notícias das perdas de sonhos e vidas somadas a marcha da insensatez, comandada por Bolsonaro, apontam que o Brasil vive sob a ameaça de uma experiência fascista.
As palavras de Arendt são inspiradoras nestes tempos de coronavírus e ameaças à democracia. Para a filósofa, o mal se espalha quando o espaço público foi deteriorado a ponto de impedir que a opinião pública seja produzida pela interação entre os diferentes pontos de vista.
Nos tempos atuais, por exemplo, assistimos à obstrução do debate em diversas esferas da nossa sociedade através da disseminação massiva de mentiras pela internet. É neste cenário que a extrema-direita, mobilizada pelo ódio e pela intolerância, avança em sua aposta no caos social para aprofundar a agenda econômica ultra neoliberal e atentar contra a liberdade.
A esquerda e os setores progressistas precisam compreender que não temos apenas um desafio democrático colocado. Está em pauta um debate sobre os rumos da humanidade, os modelos de desenvolvimento e o projeto civilizatório.
Estamos diante de um dos maiores desafios de nossa história: Bolsonaro, com seu ímpeto totalitário, usa do cargo de presidente da república em meio à crise sanitária mais importante dos últimos 100 anos para investir contra a República, pondo em risco a vida de milhões de brasileiras e brasileiros.
A constituição de uma Frente de Lutas Nacionais em defesa da vida, da civilização e da democracia para enfrentar o desmonte do Estado brasileiro e a destruição dos direitos sociais está na ordem do dia. Neste sentido, as eleições municipais de 2020 são decisivas, pois poderão impulsionar o processo de rearticulação das forças democráticas e conter o avanço do obscurantismo.
Devemos fazer um movimento junto a todas e todos que desejam esta frente para a construção da nossa unidade eleitoral. Não podemos permitir que Crivella, agora com o apoio de Bolsonaro, polarize a disputa da prefeitura com Eduardo Paes, que segundo consta nos jornais de hoje, se aproxima do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) – o mesmo que quebrou a placa com o nome de Marielle Franco. A esquerda precisa estar unificada no próximo pleito e pautar o debate sobre a reconstrução da cidade do Rio e do Brasil durante e após a pandemia.
Encerro com um pequeno trecho da “Carta da Terra”, do querido amigo e companheiro, Leonardo Boff: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro (…) Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz”.
*Reimont Otoni é professor, bancário e teólogo. Está em seu terceiro mandato de vereador e é líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.