Itens descartados em prédio de Copacabana foram doados ao Instituto Moreira Salles
Por Luiz Almeida, compartilhado de ICL
O cantor e compositor Chico Alves levou um susto durante a correria do Carnaval. Entre desfiles e shows nos dias de folia, um amigo, síndico de um prédio em Copacabana, na zona sul do Rio, ligou para avisar que diversos itens do acervo pessoal do compositor Elton Medeiros, parceiro de Paulinho da Viola e autor de pérolas do samba, haviam sido descartados. Todo o material foi colocado no lixo por um dos herdeiros.
Arte no lixo
“Quando esse meu amigo [Sérgio Fonseca] viu que o material estava para ser descartado, ele recolheu e guardou em um espaço do prédio. Como era muita coisa, me ligou. Pensei no valor de um acervo desse, da história do Elton Medeiros. Por sorte, meu amigo sabia também e fez contato comigo”, lembra Chico.
Sem também ter onde guardar a preciosidade, Chico resolveu publicar nas redes sociais, no último domingo (25), um desabafo. Na postagem, implorava por um destino para o acervo de um dos ícones do samba e da MPB.
“Elton Medeiros é um dos pilares do samba. E o samba é um dos pilares da MPB [Música Popular Brasileira]. Ele é de importância fundamental, veio nos alimentando ao longo dos anos e continuará presente. Um cara desses não poderia ser relegado ao lixo da história”, destaca Chico.
O “lixo” continha diversas relíquias — fotos, fitas cassetes e VHS, além de manuscritos de letras de músicas e roteiros de shows. O artista, que morreu, em 2019, em decorrência de uma pneumonia, tem parcerias com Cartola, Paulinho da Viola, além de Paulo César Pinheiro e Hemínio Bello de Carvalho, entre outros.
“Por uma questão de desabafo, de indignação, fiz a postagem. E como começou a repercutir muito, porque criou uma comoção grande, começaram a me ligar. Por sorte, a Bia Paes Leme, do Instituto Moreira Salles, fez contato e levamos tudo para lá”, conta.
Memória
Nascido no Espírito Santo, Chico Alves se considera carioca da gema, preservando a cultura do samba ao longo da carreira — é cantor e compositor de talento, também parceiro de craques do gênero como Moacyr Luz e Toninho Geraes. Por isso, não consegue imaginar como a memória de um ícone como Elton pôde ser relegada ao lixo.
“Infelizmente, não é dado o devido valor a pessoas como o Elton. A memória, a história, não são devidamente reconhecidas como deveriam. Agora, com o acervo no Instituto Moreira Salles, estudantes, historiadores, poderão consultar. Minha preocupação foi preservar nosso patrimônio, que é a música dele”, avalia Chico.
Presença de Elton Medeiros
O artista lembra que sempre manteve contato com o cantor. Mesmo tendo apenas dois encontros com o “mestre — um no velório da mãe de Paulinho da Viola e outro na apresentação do grupo Época de Ouro, na Rádio Nacional.
“Nas rodas de samba, não tem como não cantar Elton. E já fiz shows com músicas dele no repertório. Todos cantam, mesmo sem saber que é dele”, conta.
Ele acrescenta que todas as músicas gravadas ao longo de sua carreira sempre foram autorais, nunca como intérprete, e, portanto, não gravou Elton. Agora cogita gravar o compositor.
“Quem sabe um dia possa fazer um show, com músicas dele. As coisas convergem, né? De repente, é uma oportunidade que me apareceu, de fazer um trabalho como intérprete com repertório dele”, avisa.
Chico acrescenta que a música “A ponte”, de Elton e Paulo César Pinheiro, é uma das mais belas da MPB e, provavelmente, poderia fazer parte do repertório.
“É um primor essa música. Sempre canto ‘A Ponte’. Compositores como Elton não podem faltar. É um cara que veio nos alimentando até hoje e continuará por muito mais tempo”, diz, Chico.