Por Carlos Eduardo Alves, para o Bem Blogado –
A notícia apontando que a Odebrecht assumirá que deu R$ 23 milhões para a campanha presidencial de José Serra em 2010 não vai dar em nada. Todos lembramos que outros delatores da Lava Jato já citaram, até inúmeras vezes, políticos do PSDB e ouviram dos interrogadores, tão logo iniciaram o apontar de dedos para os tucanos, variações do “isso não interessa”. O importante, no caso, é que a confissão da empreiteira desnuda mais um pouco a hipocrisia seletiva da operação que é apresentada como a solução final da moralidade politica no Brasil.
Não, não se trata de inocentar o PT. Se o partido incidiu em irregularidades, que pague. Aliás, esse debate corre solto entre petistas. Mas para a questão ser enfrentada com seriedade é preciso que as regras, de apuração e punição eventual, sejam iguais para todos. Peguemos, aleatoriamente, o caso de Aécio Neves, heptacitado por delatores. Alguém sabe como andam as investigações sobre o mineiro vivo? Ah, mas parece que o cerco está se fechando contra Sérgio Guerra. Não precisa ser cínico para lembrar que acusar morto não vale.
O pau que dá em Chico não dá e nem dará em Francisco na Lava Jato. Desde o princípio da apuração na Petrobras, criou-se uma dúvida: se o financiamento ilegal era feito pelas mesmas empresas que doaram para PT, PSDB, PMDB e outras legendas, portanto saindo do mesmo caixa pagador, como se distinguir o que era dinheiro limpo e o que era dinheiro sujo? Alguém inventou uma maquininha para separar as notas imaculadas e as que tinham as digitais da corrupção? Quem sabe a brava rapaziada de Curitiba já desfrute da geringonça e não informou ao distinto público…
Quem tem um mínimo de informação como se operava campanhas políticas no Brasil antes da proibição do financiamento por empresas (aquela medida tão dura e longamente combatida por Gilmar Mendes) sabe que a coisa passava longe do que pregaria madre Tereza de Calcutá. Se partidos de esquerda entraram no jogo, é uma questão que deve ser debatida entre seus dirigentes, filiados e eleitores. Cabe discussão sim. Particularmente, acho que quando a esquerda usa as mesmas armas da direita perde a hegemonia moral, ferramenta que distingue os dois campos e não é coisa de poeta, não. Mas essa é uma discussão para um campo e público específicos. O bicho pega, para o país e a Democracia, quando a Justiça (?) torna-se parcial e seletiva.
Para fins legais e penais, o que a verdadeira moralidade exige é que a apuração não seja feita apenas com a vista esquerda, como tem sido até agora. Dois olhos, senhores, dois olhos. O fim de financiamento empresarial foi uma conquista dificílima. Basta lembrar o pedido de vista de Gilmar Mendes, uma coisa para entrar no Guinness pela duração, quando a maioria do STF já havia decidido fechar aquela torneira. Já há uma nada disfarçada campanha para permitir a volta da derrama de empresas. Curiosamente, seus defensores são os que, cinicamente, acham que a corrupção só tem uma cor. O episódio Serra e o que atinge também o interino soturno da mesóclise só mostram que a hipocrisia uma hora bate no teto. Quem tem mais de 3 neurônios estava careca de saber que os arautos da moralidade não resistem a 10 minutos de uma investigação séria. Aliás, a Cidade Administrativa em Belo Horizonte está pedindo a bola…