Carlinhos Violino

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Por Paulo de Tarso Guilhon, torcedor entusiasta e das antigas  do Flamengo –  

Minha infância foi povoada por futebol. A TV era recente, não havia internet, o telefone era quase um luxo e as pessoas, ainda, confiavam umas nas outras. Os vizinhos de porta se falavam e o futebol era a grande distração de crianças, jovens, adultos e idosos.




As peladas corriam soltas nas ruas. Poucos carros, pouca gente, muita bola, o dia todo. Quem não tinha muita condição jogava mesmo com bola de meia. Uma meia feminina cheia de jornal velho era a alegria da garotada. Quem tinha uma bola de borracha, daquelas vermelhas, que doíam no contato com a pele, era considerado um privilegiado. Mas, bom mesmo era a bola de couro. Privilégio de poucos.

Carlinhos Violino

Era a época em que se sabia de cor o time do coração. A rivalidade entre os clubes era intensa. Mas, igualmente, intenso era o respeito entre as torcidas. A primeira vez que a torcida, em coro, xingou o juiz foi notícia nos jornais, do dia seguinte, como um epíteto insultuoso. Meados da década de sessenta. O insulto foi porque a torcida xingou o árbitro Armando Marques de bicha.

Não me lembro de ter visto cabeças de bagre jogando. Seguramente, porque só tinha olhos para a beleza das jogadas de alguns craques como Carlinhos Violino. O futebol de Carlinhos era música da melhor qualidade. Era um maestro em campo.

Elegante, cabeça levantada, olhos de águia, antes da bola chegar tinha a certeza do domínio. No peito, no toque sutil, sem botinadas, sem chutões. Carlinhos era íntimo da bola que o tratava com o maior respeito. Mesmo com problemas respiratórios, era um gigante em campo. É que sua classe inconfundível se espalhava por todo o gramado e a leveza de suas jogadas, fazia com que o lençol no adversário fosse uma decorrência natural do seu grande futebol.

Disciplinado, não me lembro de tê-lo visto ser expulso de campo. Carlinhos era manso, nos gestos, na fala, em tudo. Contudo, quando vestia o uniforme rubro negro e entrava em campo virava uma fera do futebol. Tínhamos a certeza do futebol elegante, extraordinário, fora de série.

Hoje, fico pensando que quando Carlinhos jogava, a torcida deveria ir ao estádio com uniforme de gala, com a roupa de domingo, como se dizia antigamente. Como respeito ao futebol magistral de Carlinhos Violino.

Carlinhos nos deixou. Com ele foi, também, uma boa parte do futebol arte que hoje, infelizmente, anda ausente dos gramados nacionais. Quem sabe, foi se encontrar com outros tantos rubro negros como Dida, Joel, Jadir, Dequinha, Dr. “Rúbis” e inúmeros outros craques do mais querido que fizeram a alegria de tanta gente que teve a felicidade de vê-los em campo.

Mestre Carlinhos Violino se foi. Mas, a maestria da sua ópera jamais será esquecida.

Florianópolis, 22 de junho de 2015.

Paulo de Tarso Guilhon

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