Por Maíra Streit, Revista Fórum –
Ex-marido de Dilma Rousseff fala com exclusividade à Fórum sobre o segundo mandato da presidenta, a atual crise econômica e as tentativas da oposição de derrubá-la do poder. Segundo ele, Aécio Neves força a queda para que haja eleições antecipadas porque sabe que perderá o posto de candidato do PSDB para Alckmin em 2018
O advogado Carlos Araújo é uma das pessoas mais próximas à presidenta Dilma Rousseff, com quem foi casado por quase 30 anos. Os dois mantêm uma relação de profunda cumplicidade desde que ainda eram “Max” e “Estela”, codinomes usados durante a clandestinidade no regime militar.
Foi Carlos quem Dilma procurou primeiro para falar do convite para concorrer à sucessão de Lula na presidência e, até hoje, ele acompanha todos os passos da ex-companheira no comando do país, embora afaste o título de “conselheiro”. Nessa entrevista exclusiva à Fórum, ele avalia a atual crise econômica, mas afirma que a instabilidade política é provocada artificialmente por setores da oposição que aproveitam o momento para se sobressair.
Prova disso seria a postura do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que estaria forçando a derrubada da presidenta para tentar antecipar as eleições, já que dificilmente seria o escolhido do partido para a disputa de 2018 ao Palácio do Planalto. O advogado comenta ainda sobre o enfraquecimento de Eduardo Cunha à frente da Câmara dos Deputados e diz que Dilma nunca chegou a acreditar que o impeachment pudesse se tornar uma realidade.
Sobre o legado a ser deixado pela petista, ele ressalta que a transparência no combate à corrupção e o estímulo às investigações devem dar início a uma nova forma de lidar com esse tipo de irregularidade. “Ela vai ser lembrada porque fez um governo que tirou o lixo de debaixo do tapete. Levantou o tapete e mandou apurar tudo sem interferir em nada. Isso nunca aconteceu na história do país”, destaca.
Fórum – Da última vez em que nós conversamos, o senhor estava otimista em relação ao segundo mandato da presidenta Dilma, que tinha acabado de ser reeleita. De lá para cá, como ficou a sua avaliação desses primeiros meses de governo?
Carlos Araújo – Acho que estamos vivendo uma crise econômica muito forte, uma crise internacional e também nacional. A luta toda é para sair dessa crise quanto mais cedo e com o mínimo de prejuízo ao povo brasileiro, principalmente em relação ao custo de vida e ao desemprego. Paralelamente, tem também uma crise política, que acho um pouco artificial. Essa coisa de impeachment não tem base jurídica e ficam batendo em cima disso, criando uma situação política instável. Em vez de colaborar, acabam prejudicando o esforço para superar a crise econômica.
Creio que isso é um pouco artificial. Principalmente o senador Aécio Neves, que sabe que não será candidato em 2018, será o [Geraldo] Alckmin, e quer fazer eleições antecipadas para poder ser candidato e ter chance de vitória. É um artificialismo. Temos que respeitar as regras democráticas. Qualquer coisinha é motivo para impeachment. O posicionamento da presidenta não tem sido diferente do que foram os últimos presidentes. Vejo que essa crise política é um pouco forçada e, ao mesmo tempo, o empenho todo tem que ser no sentido de superar a grave crise econômica que o país está vivendo.
Fórum – O ano de 2015 começou e continua tenso na política nacional. Por outro lado, o senhor acredita que o polo mais incendiário da oposição já passa a dar sinais de arrefecimento?
Araújo – Acho que sim. O PSDB afirmou que não compactua com a questão do impeachment. O que o Aécio Neves fez?
Aliou-se com a parte mais conservadora do PSDB e com o DEM. É inacreditável que ele tenha entrado nessa. É a ânsia de virar presidente a qualquer custo. Eu vejo essa aliança dele com a direita e o DEM é o que há de mais conservador nesse país, além de setores mais conservadores do PSDB.
A gente sabe que tem a bancada BBB: bíblia, bala e bola, com as falcatruas do futebol. Agora é a CCC: Carlos Sampaio [líder do PSDB na Câmara dos Deputados], Cunha Lima [líder do PSDB no Senado] e o [Ronaldo] Caiado [líder do DEM na mesma casa] (Risos). Toda hora ele fala junto com o Caiado, várias referências elogiosas. Precisamos sair da crise e ganhar dinheiro. Agora deu uma recuada momentânea, tomara que não seja momentânea. Como estão tão fora da realidade?
A eleição é em 2018. Essa ânsia de Aécio tem um oportunismo. Enfrentar o Lula não é brincadeira. É melhor enfrentar agora do que em 2018. Eu vejo assim a conjuntura. A crise é profunda, não é uma crise qualquer, mas acredito que na metade do ano que vem comece a haver um crescimento novamente.
Fórum – E o Eduardo Cunha? Ele é um dos principais opositores da presidenta, mas já não tem a mesma força depois das denúncias investigadas pela Operação Lava-Jato.
Araújo – Está muito enfraquecido. A Lava-Jato é muito grave, não é pouca coisa. Então, aquilo que ele conseguiu com o baixo clero [da Câmara] tende a se desfazer. Lentamente, mas a tendência é essa. O Aécio já deu declarações contra ele. As pessoas querem se ver livres. Como é essa questão? Se é do partido ou de outros partidos, a corrupção tem que ser combatida. Mas se é de aliados, da oposição, vamos fechar os olhos? Tem que ter um mínimo de coerência. Isso criou uma tensão interna muito forte dentro do PSDB. Tem que ter coerência.
Fórum – Dilma chegou a temer, de fato, um impeachment?
Araújo – Nunca, nunca. É uma coisa muito irreal, não tem base nenhuma. Não é porque o Aécio quer e alguns conservadores querem. Como é que é isso? Em cima disso faz todo um carnaval? Ela sempre se manteve tranquila. O que preocupa mesmo é a crise, mas ela está preparada para enfrentar situações difíceis.
Fórum – Quais as perspectivas para as eleições de 2018? O senhor diz que não acredita na candidatura de Aécio. Vai ser mesmo uma disputa entre Lula e Alckmin?
Araújo – Lula, Alckmin, Marina, um dos irmãos Gomes talvez. Vejo isso e acho que Lula é o favorito. É um daqueles políticos na história do país que mesmo as questões adversas não afetam muito.
Fórum – E a presidenta entregando o cargo em 2018, de que forma o senhor acredita que ela será lembrada? Qual a marca deixada por Dilma Rousseff?
Araújo – Ela vai ser lembrada pelo país porque fez um governo que tirou o lixo de debaixo do tapete. Levantou o tapete e mandou apurar tudo sem interferir em nada. Isso nunca aconteceu na história do país. Colaborou com as investigações, estimulou, não é fácil. É uma postura que vai ser um marco. Isso [a corrupção] vem de longe, não é de agora, mas perpassa muitos governos.