Carlos Eduardo Alves pelo Facebook

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Meu pai e a Luz

Meu pai contava com orgulho sobre o dia em que, junto com uma multidão de torcedores do São Paulo, esteve na Estação da Luz para receber Leônidas da Silva, talvez o maior jogador brasileiro da época, que trocara o Flamengo pelo tricolor paulista. Leônidas veio de trem e lembro que meu velho tinha um recorte super amarelado de jornal que falava da comoção que foi aquele dia em SP.




Eu morava no Interior paulista, não era torcedor do São Paulo, mas gostava de ouvir o caso. Era a primeira vez que a Luz “entrava” na minha vida.

Muitos anos depois, mudei para São Paulo. Meu velho já voltara para cá havia muitos anos e era um especialista no “centrão” velho da cidade. conhecia todos os trajetos e desvios. Um dos meus primeiros passeios com ele foi na Luz. Lembro que ele caminhava com um pouco de dificuldade desde que, muitos anos antes, quebrara a perna numa pescaria e o andar nunca mais fora perfeito. Mesmo assim, fomos da República até a Luiz.

Ainda havia trens que ligavam São Paulo até cidades do Mato Grosso, por exemplo. A Estação era grande, bonita e mal cuidada. Gostei de estar junto com o velho num local em que ele fora feliz um dia.

Voltei algumas vezes à Luz. Lembro que uma vez peguei trem para o interior. Demorava mais que o ônibus, mas nunca viajara de trem antes e queria experimentar. Mas a Luz sempre foi sinônimo de meu pai para mim.

O velho foi embora faz muitos anos, antes da inauguração do Museu da Língua Portuguesa. Está enterrado a 440 km de São Paulo. No final da vida, era uma pessoa triste, que dificilmente sorria. Numa das vezes em que fui visita-lo no hospital, eu falei do dia em que ele recepcionara Leônidas na Sé. Mesmo doente e cansado, ele riu e gostou que eu ainda lembrava da história.

Hoje quando vi as tristíssimas imagens do fogo na Luz eu lembrei do meu velho. Tudo no centro de SP me traz ele de volta. Algumas lágrimas vieram junto, de saudade dele e pela belezura queimada. Não sei se existe vida eterna. Se houver, quando reencontrar seu Ubaldo eu vou contar que havia um museu colado ao local em que ele exultou pelo seu São Paulo um dia. E o melhor vai ser que o museu foi reconstruído na parte da São Paulo que ele gostava tanto

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