O Centro e o caipira
Uma amiga de face me mandou um link de uma entrevista de Geraldo Filme, o bamba dos bambas do samba paulistano, ao “Ensaio’, da TV Cultura. E de repente viajei na memória. Logo que cheguei a São Paulo, quis conhecer o Ponto Chic, no largo do Paissandu. Era o bar do famoso sanduíche bauru (não o mais conhecido, com presunto, queijo prato e tomate). Dei sorte. Adorei a comida e nesse dia, uma sexta-feira, estava lá o Geraldo, de terno branquíssimo, elegante, voz grossa e paciência para falar com todos que o abordavam. Desde esse dia, sempre que o dinheiro dava voltava ao Ponto Chic e saia tarde lá para pegar o ônibus que me levava para casa. Ia sozinho, não conhecia quase ninguém na cidade e voltava encantado. Às vezes, Geraldo ou outro bamba dava uma canja no bar.
E o moleque caipira foi introduzido na vida de SP pelo seu centrão. Andava por lá e encontrava Tim Maia, em sua fase mística, todo de branco, vendendo coisas que divulgavam sua religião. Mais tarde, pelas bandas da Augusta ou Brigadeiro, algumas vezes me assustei vendo Raul Seixas, já em final de vida, virando destilados em botecos ou padarias lá pela 9 de manhã.
O Ponto Chic original continua no mesmo lugar. Durante o dia já tem alguns anos que o largo em frente, com a “igreja dos negros”, é o ponto de encontro de africanos, majoritariamente nigerianos. O Geraldo Filme foi embora tem mais de 20 anos, o Tim e o Raul também. E eu fico matutando: será que algum moleque caipira roda o Centrão ainda para descobrir o que a cidade grande tem? A vida sem tanto glamour aparente está lá, o passo apressado durante o dia também e a noite não tem mais bambas. Mas se o moleque olhar bem, for curioso, vai notar que aquele pedaço antigo guarda muita história de gente.