Carlos Eduardo Alves pelo Facebook

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Não gosto da praça da Sé

Apesar da degradação, adoro andar pelas ruas do centro velho de São Paulo. Entro na rua Direita e no meio daquele comércio feio lembro da musiquinha boba do trio Mocotó (sim, existiu, e tinha o Mussum) que falava do “lado direito da rua Direita’. Vou à Casa Godinho, na Líbero Badaró, só para me certificar que ela continua lá, minha ótica até hoje é na 7 de Abril, no meu tempo de guloso sempre procurava a coxinha perfeita em algum boteco da região, no dia em que descobri o Ita fiquei alegre, enfim, o centro faz parte da zona de conforto de um moleque que veio do Interior e que se maravilhava em ver tanta gente junta na São Paulo apressada.




Foi na Se também que eu vi em sua Catedral, acho que em 75, a missa triste, emocionante e corajosa quando Vladimir Herzog foi assassinado. pela ditadura. Existia uma tensão imensa, os milicos matavam impunemente afinal, mas muitos foram ouvir o bom d. Paulo dizer que resistirámos à barbárie.

A Sé também me iniciou na Política com seus comícios exigindo eleições. E lembro de um dia em que, numa passeata estudantil, corremos da Polícia e nos escondemos, um bando de moleques cabeludos, numa loja de lingerie barata. As vendedoras, generosas, nos indicaram o local do banheiro para que a polícia não nos encontrasse.

Sempre gostei da Sé. Até o dia em que meu pai, já velho e debilitado pela diabetes, foi atropelado pelo que à época se chamava de “trombadinha”, caiu no chão, ficou sem a carteira e com um machucado grande na cabeça.

Fiquei sabendo do caso umas duas semanas depois, quando ele foi me visitar em casa, nas Perdizes. Com a dificuldade de cicatrização ocasionada pela doença, as feridas ainda estavam lá, feias. Deixei meu pai na ponto de ônibus da rua Vanderlei e no pequeno trajeto até meu prédio soltei o choro que havia segurado diante dele. Era raiva pela violência que machucara meu velho e um sentimento de inutilidade, de não ter evitado, de não rter protegido o pai na velhice.

Depois daquele dia, passei várias vezes na Sé, mas sempre com pressa, mesmo sem motivo. Levei meu filho caçula aos 8 anos para tirar a carteira de identidade no Poupatempo de lá e lembro que segurei forte demais a mão dele ao atravessar a praça em que um cara derrubou meu pai. Lembrei do velho e da palavra proteção.

Ontem soube da cena terrível em que duas pessoas morreram na escadaria da Catedral. Mais uma tragédia da cidade envolvendo aquela gente triste e sem horizonte que fica pela praça. Chorei as mortes e a brutalidade. Mas eu naõ gostava mais da Sé desde que meu velho saiu sangrando de lá e eu não pude protegê-lo.

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